quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Por que a ciência não consegue enterrar Deus- John Lennox








Quando fiquei sabendo que um livro do John Lennox ia sair no Brasil a euforia foi grande. Conheci o autor através do belo debate entre ele e Dawkins, um cientista que divulga o ateísmo mundo a fora. O que mais me agradou alem da ironia Chestertoniana clara em debates, foi o afiado discurso tanto cientico ,quando filosófico-teológico do Britanico. Tambem pude assistir á palestra no Simpósio anual da Universidade Makenzie DARWINISMO HOJE, onde Lennox falou sobre os neo-ateistas e suas falácias . Posso garantir que esse livro lançado no Brasil é um passo maduro e alem, no debate sobre Designer Inteligente , me cativando do inicio ao fim pelo teor claro, cientifico e simples de expor conceitos difíceis e paradoxais . Acho que é um livro para, alem de ajudar o leitor leigo, pode ser de grande valia para quem lida no campo do diálogo entre ciencia e religião . Livro indicadíssimo a todos!!!
Eduardo Vaz


O debate entre cristãos e ateus sempre teve como campo de batalha mais áspero o ambiente científico. Neste espaço dedicado à ciência e ao conhecimento, os fundamentalistas estão atacando. E, desta vez, não são os religiosos cristãos, mas os novos ateístas, que propagam o ateísmo como religião, com cânones, dogmas, líderes ungidos (Richard Dawkins é considerado um papa), normas de conduta e proselitismo.

Para dar aos cristãos embasamento científico suficiente para refutar os argumentos falaciosos com os quais os ateístas tentam esconder o fervor religioso e a parcialidade que nutrem contra as religiões, em especial a cristã, John C. Lennox escreveu este livro. Nele, o autor expõe como os ícones do movimento ateísta falham crassamente ao rejeitar o que mais alardeam: o debate honesto e racional sobre espiritualidade, fé e religião.

Discutindo temas complexos como os limites da ciência, biologia natural e biosfera, design intencional e a teoria da evolução, Lennox prova que, como cientistas, os ateístas não querem descobrir a verdade sobre a existência de Deus e ajuda o leitor a desmontar seus subterfúgios pseudocientíficos, misticismo e argumentação baseada em autoridade e mitos.

Por que a ciência não consegue enterrar Deus debate cosmovisões, cosmogonias, teoria da evolução, criacionismo, design inteligente, os limites da ciência e outros temas fundamentais para a correta análise de fé e razão.

Páginas: 320
Tamanho: 16x23
Categoria: Cristianismo e sociedade
Ano: 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como Cristo pode ser o único caminho para Deus?i


WILLIAN LANE CRAIG

Como Cristo pode ser o único caminho para Deus?
William Lane Craig

Recentemente falei em uma grande universidade canadense sobre a existência de Deus. Após a palestra, uma estudante um pouco irada escreveu em seu cartão de comentários: ―estava lhe acompanhando até aquela coisa sobre Jesus. Deus não é o Deus cristão!‖
Atualmente, esta atitude é pervasiva na cultura ocidental. A maioria das pessoas admite de bom grado que Deus existe, mas em uma sociedade pluralista como a nossa, tornou-se politicamente incorreto clamar que Deus se revelou decisivamente em Jesus.
Entretanto isto é exatamente o que o Novo Testamento ensina claramente. Tomemos as cartas do apóstolo Paulo, por exemplo. Ele convida os gentios convertidos a se lembrarem da era pré-cristã: ―naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo‖ (Efésios 2.12)ii. O propósito dos primeiros capítulos das cartas de Paulo aos romanos é justamente mostrar que essa infeliz condição é a situação geral de toda a humanidade. Paulo explica que o poder e a divindade de Deus são conhecidos pela harmonia das coisas criadas que nos cercam e que os homens são indesculpáveis (1.20). Mais que isso, que Deus escreveu Sua lei moral no coração de todo homem, de modo que estes são moralmente responsáveis perante Ele (2.15). Embora Deus ofereça a vida eterna àquele que responder de forma apropriada à revelação de Deus na natureza e consciência, a triste verdade é que as pessoas ignoram Deus e zombam de Sua lei moral (1.21-32), em lugar de adorar e servir o Criador. A conclusão: todo homem está sob o poder do pecado (3.9-12). Pior, Paulo segue explicando que ninguém pode se redimir através de uma vida justa (3.19-20). Felizmente, contudo, Deus forneceu um meio de redenção: Jesus Cristo morreu pelos pecados da humanidade, satisfazendo, portanto, a justiça de Deus e possibilitando a reconciliação com Ele (3.21-6). Através de Sua morte propiciatória a salvação se tornou possível como um dom recebido pela fé.
A lógica do Novo Testamento é clara: a universalidade do pecado e a imparidade da morte propiciatória de Cristo implicam que não há salvação a não ser por Cristo. Como os apóstolos proclamaram, ―E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos‖ (Atos 4.12).
Esta doutrina particularista era tão escandalosa no politeísta Império Romano como o é hoje para a cultura ocidental. Por essa razão, os primeiros cristãos eram frequentemente perseguidos, torturados e mortos, já que eles se recusavam a adotar uma visão pluralista das religiões. Naquele tempo, contudo, à medida que o cristianismo cresceu e suplantou as religiões da Grécia e Roma, vindo a se tornar a religião oficial do Império Romano, o escândalo diminuiu. De fato, para pensadores medievais como Agostinho e Aquino, uma das marcas da verdadeira Igreja era sua catolicidade, isto é, sua universalidade. Para estes, era inconcebível que o grande edifício da Igreja Cristã (que abarcava toda a civilização) fosse fundado em uma mentira.
Essa doutrina desapareceu com a então chamada ―Expansão Marítima‖, que se refere aos três séculos de exploração e descobertas ocorridas entre 1450 e 1750. Através das expedições e viagens
de homens como Marco Polo, Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães, novas civilizações e mundos inteiros que nada sabiam da fé cristã foram descobertos. A percepção de que muito do mundo nunca tivera contato com o cristianismo teve dois grandes impactos sobre o pensamento religioso das pessoas. Primeiro, houve a tentativa de se relativizar as crenças religiosas. Parecia que, longe de ser uma religião universal, o cristianismo estava confinado à Europa ocidental, uma pequena porção do globo. Assim parecia que nenhuma religião particular poderia pretender ser válida universalmente. Cada sociedade parecia ter sua própria religião, adequada às suas próprias necessidades peculiares. Segundo, fez com que a assertiva cristã de que Cristo é o único meio de salvação parecesse limitada e cruel. Racionalistas iluministas como Voltaire insultaram seus coevos cristãos com o cenário de que milhões de chineses teriam ido para o inferno por não terem crido em Cristo, quando nem sequer tinham ouvido sobre Ele. Mesmo hoje, o influxo de imigrantes oriundos de ex-colônias para as nações ocidentais e os avanços nas telecomunicações que tem reduzido o mundo a uma aldeia global tem aumentado nossa percepção da diversidade religiosa da humanidade. Como resultado, o pluralismo religioso é hoje senso comum.
O problema colocado pela diversidade religiosa
Mas qual seria exatamente o problema colocado pela diversidade religiosa da humanidade? E para quem isto seria um problema? Quando alguém lê a literatura a esse respeito, o desafio recorrente parece recair sobre o particularismo cristão. O fenômeno da diversidade religiosa é utilizado para enunciar a verdade do pluralismo e o debate, então, prossegue para qual forma de pluralismo é mais plausível. Mas por que pensar que o particularismo cristão é indefensável em face da diversidade religiosa? Qual seria exatamente o problema?
Quando alguém examina os argumentos a favor do pluralismo, descobre que muitos deles são quase falácias lógicas exemplificadas em manuais. Por exemplo, é frequentemente argumentado que é arrogante e imoral sustentar qualquer doutrina religiosa particularista, porque o crente irá considerar todas as pessoas que discordam de sua própria religião como erradas. Este parece ser um exemplo simplório de falácia lógica conhecido como argumento ad hominem, que tenta invalidar uma posição atacando a pessoa que o defende. Isto é uma falácia porque a verdade de uma proposição independe das qualidades morais daquele que a defende. Mesmo se todos os cristãos particularistas forem arrogantes e imorais, não segue que a visão deles seja falsa. Não apenas isto, por que pensar que arrogância e imoralidade são necessariamente condições de um particularista? Suponhamos que eu tenha feito tudo que podia para descobrir a verdade religiosa sobre a realidade e estou convencido que o cristianismo é verdadeiro e, humildemente, professo a fé cristã como alguém que, sem merecer, recebe um presente de Deus. Sou, portanto, arrogante e imoral por acreditar naquilo que sinceramente penso ser verdade? Finalmente, e ainda mais fundamental, tal objeção é uma espada de dois gumes. Porque o pluralista também acredita que sua visão está certa e que todos os adeptos das tradições particularistas estão errados. Portanto, se sustentar uma visão da qual muitos outros discordam significa arrogância e imoralidade, então o próprio pluralista deveria estar convencido de sua arrogância e imoralidade.
Para dar outro exemplo, é frequentemente alegado que o particularismo cristão não pode estar correto porque religiões são culturalmente relativas. Por exemplo, se um cristão tivesse nascido no Paquistão, ele provavelmente seria muçulmano. Dessa forma, sua crença no cristianismo é falsa ou
injustificada. Mas, novamente, parece que estamos diante de outra falácia de livro-texto, chamada falácia genética. Tenta-se invalidar uma posição criticando o modo pelo qual a pessoa veio a sustentá-la. O fato de que suas crenças dependem de quando e onde você nasceu não tem relevância sobre a verdade da crença. Se você tivesse nascido na Grécia antiga, você provavelmente teria acreditado que o sol orbita a Terra; Isto implica que sua crença de que a Terra orbita o sol é, portanto, falsa ou injustificada? Evidentemente não? E, novamente, o pluralista puxa o tapete de debaixo de seus pés: tivesse o pluralista nascido no Paquistão, ele provavelmente seria um particularista religioso. Então, segundo sua própria análise, seu pluralismo é meramente o produto de ter nascido na sociedade ocidental do século XX e, portanto, falso e injustificado.
Assim, alguns dos argumentos contra o particularismo cristão frequentemente encontrados na literatura são ineficazes. Eles não são realmente o problema. Entretanto, creio que quando essas objeções são respondidas pelos defensores do particularismo cristão, então a real questão tende a emergir. Essa questão, penso, diz respeito ao destino dos incrédulos fora da própria tradição religiosa. O particularismo cristão despacha tais pessoas para o inferno, o que os pluralistas tomam como inescrupuloso.
Mas qual exatamente seria o problema aqui? Qual é a dificuldade em sustentar que salvação somente é possível através de Cristo? Seria simplesmente a alegação de que um Deus de amor não mandaria as pessoas para o inferno? Eu não acho. A Bíblia diz que Deus deseja a salvação de cada ser humano. ―Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento‖ (2Pedro 3.9). Ainda, ―o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade‖ (1Timóteo 2.4). Deus fala através do profeta Ezequiel:
―Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? — diz o SENHOR Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva? Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei. Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?‖ (Ez. 18.23,32; 33.11)
Aqui Deus literalmente suplica ao povo para se arrepender do curso de ação autodestrutivo que tomou e seja salvo. Então, de certo modo, o Deus bíblico não manda qualquer pessoa para o inferno. Ele deseja que todos sejam salvos e procura atrair todas as pessoas para Si. Se fizermos uma escolha livre e bem informada de rejeitar o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados, então Deus não tem outra escolha senão nos dar o que merecemos. Deus não irá nos mandar para o inferno – mas nós nos mandaremos para lá. Nosso destino eterno está, pois, em nossas mãos. Onde nós passaremos a eternidade é uma questão de livre arbítrio. Os perdidos, assim, se auto-condenam; eles se apartam de Deus apesar do desejo e esforço dEle para os salvar – e Deus se angustia com a perda deles.
Agora o pluralista talvez admita que, dado o livre arbítrio, Deus não pode garantir que todos serão salvos. Algumas pessoas podem livremente se condenar a si mesmas rejeitando a oferta de salvação de Deus. Porém, ele talvez argumente, seria injustiça de Deus condenar tais pessoas eternamente. Porque mesmo terríveis pecados tais como aqueles dos torturadores nazistas nos campos de
concentração merecem apenas uma punição finita. Assim, o inferno, pelo menos, deveria ser uma espécie de purgatório, que duraria um tempo apropriado para cada pessoa até que fosse liberta e admitida no paraíso. Eventualmente o inferno ficaria vazio e o paraíso lotado. Então, ironicamente, o inferno é incompatível não apenas com o amor de Deus, mas com Sua justiça. A objeção assevera que Deus é injusto porque a punição não está de acordo com o crime.
Mas, novamente, isto não me parece ser o verdadeiro problema, porque a objeção falha em, pelo menos, dois aspectosiii:
(1) A objeção confunde cada pecado que nós cometemos com todos os pecados que nós cometemos. Poderíamos admitir que cada pecado individual que uma pessoa comete merece somente uma punição finita. Mas não seguiria daí que todos os pecados de uma pessoa tomados em conjunto implicariam em apenas uma punição finita. Se uma pessoa comete um número infinito de pecados, então a soma total de todos os pecados merece punição infinita. Logicamente ninguém comete um número infinito de pecados na vida terrena. Mas e depois da morte? À medida que os habitantes do inferno continuam odiando e rejeitando Deus, eles continuam pecando, adicionando sobre si mesmos mais culpa e punição; Em um sentido real, então, o inferno se auto perpetuaria. Em tal caso, cada pecado teria uma punição finita, mas porque o pecado seria eterno, assim seria a punição.
(2) Por que pensar que cada pecado tem apenas uma punição finita? Nós poderíamos admitir que pecados como roubar, mentir, adulterar, etc. tem apenas consequências finitas e, portanto, somente merecem uma punição finita. Mas, de certo modo, estes pecados não são o que separa alguém de Deus. Porque Cristo morreu por estes pecados. A pena por estes pecados foi paga. A pessoa tem apenas que aceitar Cristo como salvador para ser completamente livre e limpa destes pecados. Mas a recusa em aceitar Cristo e seu sacrifício parece ser um pecado de ordem completamente diferente. Porque este pecado repudia a providência de Deus para o pecado e decisivamente separa o homem de Deus e de Sua salvação. Rejeitar Cristo é rejeitar o próprio Deus. E à luz de quem Deus é, este é um pecado de gravidade e proporções infinitas e, portanto, plausivelmente merece infinita punição. Desse modo, nós não deveríamos pensar no inferno como sendo primariamente punição pelo conjunto de pecados de consequência finita que nós temos cometido, mas como a justa pena por um pecado de infinita consequência, a saber, a rejeição de Deus.
Mas talvez o problema seja que um Deus de amor não mandaria pessoas para o interno porque elas estavam mal informadas ou desinformadas sobre Jesus. Novamente, esta não me parece ser a raiz do problema. Porque, de acordo com a Bíblia, Deus não julga as pessoas que nunca ouviram sobre Cristo com base se eles colocaram a fé em Cristo. Deus os julga com base na Sua revelação geral na natureza e na consciência que eles tem. A proposta de Romanos 2.7 (―a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade‖) é uma proposta de salvação de boa fé. Isto não diz que as pessoas podem ser salvas à parte de Cristo. Pelo contrário, diz que os benefícios da morte propiciatória de Cristo poderiam ser aplicados a pessoas sem um conhecimento consciente de Cristo. Tais pessoas seriam similares a certas pessoas mencionadas no Velho Testamento, como Jó e Melquisedeque, que não tinham conhecimento consciente de Cristo e não eram sequer membros da aliança de Israel, mas claramente gozaram de um relacionamento pessoal com Deus. Similarmente, poderia haver Jós atualmente vivendo entre aquele percentual da
população do mundo que ainda não ouviu o Evangelho de Cristo.
Infelizmente, como vimos, o testemunho do Novo Testamento é que as pessoas não alcançam nem mesmo padrões muito baixos de revelação geral. Então, há pouco espaço para otimismo sobre existir muitos, ou mesmo um, que será salvo apenas através de sua resposta à revelação geral. Não obstante, resta o ponto de que a salvação é universalmente acessível para qualquer um que nunca ouviu o Evangelho através da revelação geral de Deus na natureza e na consciência. Assim o problema colocado pela diversidade religiosa não pode ser simplesmente que Deus não condenaria pessoas que estão desinformadas ou mal informadas sobre Jesus.
Pelo contrário, parece-me que o problema verdadeiro é esse: se Deus é onisciente, então Ele sabia quem aceitaria livremente o Evangelho e quem o rejeitaria. Mas, então, certamente questões muito difíceis emergem:
(i) Por que Deus não trouxe o Evangelho às pessoas que Ele sabia que iriam aceitar se ouvissem, mesmo tendo essas mesmas pessoas rejeitado a luz de revelação geral que elas tiveram?
Para ilustrar: imagine um índio norte americano antes da chegada de missionários cristãos. Vamos chamá-lo de Walking Bear. Vamos considerar que à medida que Walking Bear olha para o céu à noite e vê a beleza da natureza, ele sente que tudo isso foi criado por um Grande Espírito. Além disso, Walking Bear olha para seu próprio coração e sente a lei moral, dizendo a ele que todos os homens são irmãos feitos pelo Grande Espírito. Ele então percebe que nós deveríamos amar uns aos outros. Mas suponhamos que, em lugar de adorar o Grande Espírito e amar seus companheiros, Walking Bear ignora o Grande Espírito e cria totens de outros espíritos. Ao invés de amar seus companheiros, ele vive de forma egoísta e cruel. Em tal caso, Walking Bear seria justamente condenado diante de Deus, com base em sua falha em responder à revelação geral de Deus na consciência e natureza. Mas suponhamos agora que, tivessem os missionários chegado, Walking Bear teria acreditado no Evangelho e sido salvo! Neste caso, sua salvação ou condenação parecem ser o resultado de um azar. Não por sua culpa, ele apenas nasceu em uma época e lugar da história onde o Evangelho não estava disponível. Sua condenação é justa, mas um Deus de amor permitira que o destino eterno das pessoas dependesse de acidentes geográficos e históricos?
(ii) Mais que isso, por que Deus criou o mundo, quando Ele sabia que tantas pessoas não acreditariam no Evangelho e se perderiam?
(iii) Sendo ainda mais radical, por que Deus não criou um mundo no qual todos livremente cressem no Evangelho e fossem salvos?
O que o cristão particularista deveria responder a estas questões? O cristianismo torna Deus cruel e desamoroso?
O problema analisado
A fim de responder a estas questões será necessário examinar mais de perto a estrutura lógica problema em tela. O pluralista parece afirmar que é impossível para Deus ser onipotente e amoroso,
sendo que algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão perdidas, ou seja, as seguintes sentenças são logicamente inconsistentes.
1. Deus é onipotente e amoroso.
2. Algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão perdidas.
Porém, precisamos nos perguntar, por que pensar que (1) e (2) são logicamente incompatíveis? Afinal de contas, não há contradição explícita entre elas. Todavia, se o pluralista afirma que (1) e (2) são implicitamente contraditórias, ele deve estar assumindo algumas premissas que serviriam para explicitar esta contradição. A questão é, quais são essas premissas ocultas?
3. Se Deus é onipotente, Ele pode criar um mundo no qual todos ouvem o Evangelho e são livremente salvos.
4. Se Deus é amoroso, Ele prefere um mundo no qual todos ouvem o Evangelho e são livremente salvos.
Desde que, conforme (1), Deus é tanto onipotente como amoroso, segue que Ele tanto pode criar um mundo de salvação universal, como prefere tal mundo. Portanto, tal mundo existe, o que contradiz (2).
Condiremos (3). É provavelmente incontroverso que Deus poderia criar um mundo no qual todos ouvissem o Evangelho. Mas, desde que as pessoas sejam livres, não há garantias que todos em tal mundo seriam salvos. De fato, não há razão para pensar que o equilíbrio entre salvos e perdidos em tal mundo seria de alguma forma melhor que a situação no mundo em que vivemos! É possível que em qualquer mundo de pessoas com livre arbítrio que poderia ser criado por Deus algumas pessoas rejeitassem livremente a salvação pela graça e fossem condenadas. Logo, (3) não é necessariamente verdadeira, de modo que o argumento pluralista é falacioso.
Mas, e quanto a (4)? É necessariamente verdadeira? Suponhamos, em favor do argumento, que são viáveis para Deus mundos nos quais cada pessoa ouve o Evangelho e o aceita livremente. O fato de Deus ser amoroso O compele a preferir um destes mundos a um mundo no qual algumas pessoas não são salvas? Não necessariamente; porque mundos envolvendo salvação universal talvez tenham outras deficiências mais sérias que os tornam menos preferíveis. Por exemplo, suponhamos que os únicos mundos nos quais todos acreditam livremente no Evangelho e são salvos são mundos com apenas algumas pessoas – digamos, três ou quatro. Se Deus fosse criar alguma pessoa a mais, então, pelo menos uma delas teria livremente rejeitado Sua graça e estaria perdida. Deus deve preferir um desses mundos esparsamente povoados ao invés de um mundo no qual multidões acreditam no Evangelho e são salvas, ainda que isto implique que outras pessoas livremente rejeitem a graça e sejam condenadas? Isto está longe de ser óbvio. Desde que Deus dê graça suficiente para todas as pessoas que Ele criou, Ele não parece menos amoroso por preferir um mundo mais populoso, mesmo que isto implique que algumas pessoas resistam livremente a todo Seu esforço para salvá-las e sejam condenadas. Assim, a segunda hipótese pluralista também não é necessariamente verdadeira, de modo que o argumento é duplamente falacioso.
Então, nenhuma das suposições pluralistas parece ser necessariamente verdadeira. A menos que o pluralista possa sugerir outras premissas, não temos razão para pensar que (1) e (2) são logicamente incompatíveis.
Mas podemos levar o argumento adiante. Podemos mostrar positivamente que é inteiramente possível que Deus seja onipotente e amoroso e que diversas pessoas nunca ouçam o Evangelho e se percam. Tudo que precisamos fazer é encontrar uma sentença verdadeira que seja compatível com Deus sendo onipotente e amoroso e que compreenda ―algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão condenadas‖. Tal sentença pode ser formulada? Vamos ver.
Como um Deus bom e amoroso, Ele quer que o máximo de pessoas possível sejam salvas e o menor número se perca. Seu objetivo, pois, é atingir um equilíbrio ótimo, de modo a não criar mais perdidos que o necessário para alcançar um certo número de salvos. É possível que o mundo em que vivemos (que inclui o futuro, o presente e o passado) tenha tal equilíbrio. É possível que para criar a quantidade de pessoas que serão salvas, Deus também tenha criado uma quantidade de pessoas que estarão perdidas. É possível que Deus tivesse criado um mundo no qual poucas pessoas fossem para o inferno, mas onde poucas pessoas teriam ido para o céu. É possível que, a fim de alcançar uma multidão de santos, Deus tenha aceitado uma multidão de pecadores.
Pode ser objetado que um Deus amoroso não criaria pessoas que Ele sabia que estariam perdidas, mas que teriam sido salvas se elas tivessem ouvido o Evangelho. Mas como sabemos que existem tais pessoas? É razoável presumir que muitas pessoas que nunca ouviram o Evangelho não teriam acreditado no Evangelho, mesmo se tivessem ouvido. Suponhamos, então, que Deus providencialmente organizou o mundo de modo que todas as pessoas que nunca ouviram o Evangelho são precisamente estas pessoas. Neste caso, qualquer pessoa que nunca ouça e seja condenada, teria rejeitado o Evangelho e se perdido mesmo se o ouvisse. Ninguém poderia reclamar perante Deus no Dia do Julgamento ―tudo bem, Deus, não respondi à sua revelação geral na natureza e consciência! Mas se tivesse ouvido o Evangelho, teria acreditado!‖ Ao que Deus responderia ―não; eu sabia que mesmo se você tivesse ouvido o Evangelho, você não teria acreditado. Assim sendo, meu julgamento sobre você com base na natureza e na consciência não é nem injusto nem desamoroso.‖
Então, é possível que:
5. Deus criou um mundo no qual há um equilíbrio ótimo entre salvos e perdidos e aqueles que nunca ouviram o Evangelho e estão perdidos não teriam acreditado, mesmo se tivessem ouvido.
Desde que (5) seja possivelmente verdadeira, temos que não há incompatibilidade entre um Deus onipotente e amoroso e o fato de algumas pessoas nunca ouvirem o Evangelho e estarem condenadas.
Como base nisto, estamos preparados para oferecer possíveis respostas às três questões que levaram a esta investigação. Responderemos na ordem inversa:
(i) Por que Deus não criou um mundo no qual todos livremente cressem no Evangelho e fossem
salvos?
Resposta: Talvez não seja viável para Deus criar tal mundo. Se tal mundo fosse viável, Deus o teria criado. Mas, dado Seu desejo em criar criaturas livres, Deus teve que aceitar que algumas livremente rejeitassem a Ele e a todo Seu esforço para salvá-las e se perdessem.
(ii) Por que Deus criou o mundo, quando Ele sabia que tantas pessoas não acreditariam no Evangelho e se perderiam?
Resposta: Deus queria dividir Seu amor e companhia com as pessoas criadas. Ele sabia que isto significaria que muitos O rejeitariam e estariam perdidas. Mas Ele também sabia que muitos outros receberiam livremente Sua graça e seriam salvos. A felicidade e bem-aventurança daqueles que aceitassem Seu amor não poderia ser excluída por aqueles que livremente O desprezam. Pessoas que livremente rejeitam a Deus e ao Seu amor não seriam permitidas, de fato, a sustentar um poder de veto sobre um mundo que Deus pode livremente criar. Em Sua misericórdia, Deus providencialmente organizou um mundo para atingir um equilíbrio ótimo entre salvos e perdidos, maximizando o número daqueles que O aceitam livremente e minimizando o número daqueles que não.
(iii) Por que Deus não trouxe o Evangelho às pessoas que Ele sabia que iriam aceitar se ouvissem, mesmo tendo essas mesmas pessoas rejeitado a luz de revelação geral que elas tiveram?
Resposta: Não existem tais pessoas. Deus em Sua providência organizou o mundo de tal forma que quem responde ao Evangelho se o ouve, o ouve. O Deus soberano construiu a história humana de modo que o Evangelho se espalhasse a partir da Palestina no primeiro século. Ele colocou pessoas no caminho de quem acreditaria se ouvisse. Uma vez que o Evangelho alcança um povo, Deus providencialmente coloca ali pessoas que Ele sabia que responderiam ao ouvir. Em Seu amor e misericórdia, Deus assegura que ninguém que creria no Evangelho se ouvisse é nascido em um tempo e lugar na história em que não o fosse ouvir. Aqueles que não respondem à revelação geral de Deus na natureza e na consciência e nunca ouviram o Evangelho, não responderiam a ele mesmo se o ouvisse. Portanto, ninguém se perde por causa de fatores históricos ou geográficos. Qualquer que deseja ser salvo é salvo.
Essas são apenas respostas possíveis às questões colocadas. Mas, desde que elas são possíveis, não há incompatibilidade entre Deus ser onipotente e amoroso e algumas pessoas não ouvirem o Evangelho e estarem perdidas. Além disso, essas respostas são atraentes por também terem aparente respaldo bíblico. Em seu discurso aos filósofos atenienses reunidos no Areópago, Paulo declarou:
―O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos‖ (Atos 17.24-27)
Isto parece exatamente com as conclusões a que cheguei a partir de uma reflexão puramente
filosófica da questão!
Agora o pluralista pode conceder que haja compatibilidade lógica entre Deus ser onipotente e amoroso e algumas pessoas nunca ouvirem o Evangelho e estarem perdidas, mas insiste que estes dois fatos são, contudo, improváveis com relação um ao outro. Pessoas, no geral, parecem acreditar na religião da cultura na qual cresceram. Neste caso, o pluralista talvez argumente, é altamente provável que se muitos daqueles que nunca ouviram o Evangelho tivessem sido criados em uma cultura cristã, poderiam ter acreditado no Evangelho e sido salvos. Então, a hipótese que nós oferecemos é altamente improvável.
De fato seria fantasticamente improvável que em virtude apenas de casualidade todos aqueles que nunca ouviram o Evangelho e se perderam não acreditariam no evangelho mesmo se tivessem ouvido. Mas a hipótese não é essa. A hipótese é que um Deus providente é quem organizou o mundo. Dado um Deus dotado de conhecimento acerca de como cada pessoa iria livremente reagir a Sua graça em quaisquer circunstâncias, não é implausível que Deus tenha ordenado o mundo da maneira acima descrita. Tal mundo não teria, aparentemente, qualquer diferença de um mundo no qual as circunstâncias do nascimento de uma pessoa são casuais. O particularista pode concordar que pessoas geralmente adotam a religião de suas culturas e que se muitas das pessoas nascidas em culturas não-cristãs tivessem nascido em uma sociedade cristã, teriam se tornado nominalmente ou culturalmente cristãs. Mas isto não quer dizer que elas seriam salvas. É um simples fato empírico que não existem traçõs sociológicos ou psicológicos distintivos entre pessoas que se tornam cristãos e pessoas que não se tornam. Não há como predizer acuradamente, através de exames, em quais circunstâncias uma pessoa acreditaria em Cristo para se salvar. Desde que um mundo providencialmente ordenado por Deus pareceria exteriormente idêntico a um mundo no qual o nascimento é decorrente de acidentes histórico-geográficos, é difícil perceber como a hipótese que tenho defendido pode ser considerada como improvável sem uma demonstração de que a existência de um Deus dotado de conhecimento para tanto seja implausível. Não conheço tão persuasivas objeções.
A título de conclusão, portanto, pluralistas não tem se mostrado capazes de mostrar qualquer inconsistência lógica no particularismo cristão. Pelo contrário, conseguimos demonstrar que esta posição é logicamente coerente. Mais que isto, penso que tal visão é não apenas possível, mas plausível. Por conseqüência, a diversidade religiosa da humanidade não solapa o Evangelho cristão de que somente há salvação através de Cristo.
De fato, para aqueles de nós que são cristãos, penso que o que disse ajuda a colocar as missões cristãs em uma perspectiva adequada: é nosso dever como cristãos proclamar o Evangelho ao mundo todo, confiando que Deus ordenou providencialmente as coisas, para que, através de nós, as Boas Novas cheguem até as pessoas que Deus sabe que irão aceitá-las se ouvirem. Nossa compaixão para com as outras religiões do mundo é expressa, não fingindo que eles não estão perdidos sem Cristo, mas apoiando e nos esforçando para comunicar a eles a mensagem de vida de Cristo.
E para aqueles de nós que ainda não são Cristãos: você precisa se perguntar ―estou aqui meramente por acidente? É apenas pelo acaso que ouvi essa mensagem? Não há propósito ou razão para eu estar aqui? Ou poderia ser que Deus em Sua providência me atraiu para que eu livremente ouça as
Boas Novas do amor e da misericórdia de Deus, que se chegam até mim através de Cristo? Então, como vou responder? Ele me deu uma oportunidade. Irei me valer dela ou, novamente, virar minhas costas para Ele?‖ A decisão é com você.
Notas do tradutor
i Texto traduzido sem fins comerciais ou acadêmicos. O texto original How can Christ be the only Way to God pode ser acessado gratuitamente em http://www.reasonablefaith.org.
ii Todas as passagens bíblicas foram traduzidas para o português a partir da versão Almeida Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil.
iii A argumentação que se segue poderia ser simplificada se o autor utilizasse o real conceito de Pecado. Considerando-se Pecado como atitude de independência em relação a Deus inerente a todo ser humano, tem-se imediatamente uma transgressão com efeitos eternos. Há que se ressaltar, aquilo que se considera usualmente como pecados, é, neste sentido, apenas resultado da atitude do homem de agir segundo sua corrompida visão de bem e de mal.


TRADUÇÃO - Leandro Diniz Pereira

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Neurose da Religião - Tom Hovestol



Por Eduardo Vaz:

Talvez esse seja o livro mais relevante que li em 2011. Nunca havia feito uma leitura tão abrangente sobre os fariseus como essa do ótimo Tom Hovestol. Confesso que ando meio cansado de leituras apenas pós moderninhas , que com o intuito de minar a força da igreja e sem compromisso com ela, fazem ataques a tudo e todos, porem essa leitura foi de grande inspiração, porque dentre outras coisas o autor não negar o valor das praticas mais piedosas dos fariseus, apenas nos mostrando os riscos que essas praticas trazem em si, e o porque Jesus nos mandou tomar tanto cuidado com esse povo. Indicadíssimo para quem quer ser relevante na vida com Deus e com as pessoas no dia a dia.

Sinopse:

ZELOSOS em relação às Escrituras.
ESCRUPULOSOS em suas ofertas.
DEDICADOS a viver sem ser maculados pelo mal do mundo.
ARDOROSOS na antecipação da libertação de Deus.
CONSCIENCIOSOS na obediência aos mandamentos de Deus.

Essas afirmações descreve, os fariseus. E elas também retratam nossa comunidade evangélica. Ainda assim, a maioria de nós não consegue avaliar os riscos paralelos existentes conosco.

Focamos os fariseus como personagens negativos. Ao proceder desse modo, perdemos o benefício prático da intenção de Deus ao nos revelar muito a respeito deles.

Neste livro, o autor examina os fariseus. Ao explorar as raízes históricas e bíblicas desse grupo, ele descobre verdades profundas que alertam os cristãos a evitarem esse caminho desastroso. Podemos ser os fariseus de hoje, e muito mais do que gostaríamos de admitir!

Tom Hovestol faz brilhar uma nova luz em nossa compreensão de quem somos e do que Jesus nos diz.

Leith Anderson, pastor da Wooddale Church.

Este livro está em busca da alma. Deveria ser leitura obrigatória para todo cristão conservador.

Duane Litfin, reitor do Wheaton College.

Este livro cheio de percepções abriu meus olhas um pouco mais para a verdade e me chamou ao arrependimento. E, ao mesmo tempo, ofereceu esperança e conselhos práticos para a mudança. Creio que o livro do Tom nos levará a um nível mais profundo de semelhança a Cristo.

Greg Waybright, reitor da Trinity International University.

Perdemos consistentemente o choque de valores provocado pelos ensinamentos de Jesus porque nos esquecemos de seu contexto original. Poucos judeus do primeiro século teriam considerado os fariseus hipócritas, eles eram os grupos mais popular dos líderes religiosos conservadores.

O que Jesus percebia neles que os outros não viam? Hovestol fez sua lição de casa e explica isso de uma forma extremamente clara e agradável. Podemos ser os fariseus de hoje, e muito mais do que gostaríamos de admitir!

Craig blomberg, professor do Denver Seminary.

Tom Hovestol é pastor da Calvary Church, em Longmont, Colorado. Graduou-se no Wheaton College e Trinity Evangelical Divinity School, foi professor por três anos em Suazilândia, na África. Ele e sua esposa, Carey têm cinco filhos.