domingo, 24 de janeiro de 2010

LAMENTO - A fé em meio ao sofrimento e à morte


Nicholas Wolterstorff
















"Talvez uma ou duas vezes por ano alguém leia um livro tão emocionante e essencial a ponto de recomendá-lo aos amigos. Simples e profundo, Lamento é um desses livros."
— Christianity Today


Esse é o livro de um Professor de Filosofia que perdeu seu filho em um acidente , quando o mesmo fazia uma escalada, esperte que praticava.
Confesso que procurei ao ler esse livro, um pouco daquilo que mais anseio , ou seja, coragem. Ouvi dizer que se tratava de um livro forte e desafiador , e por isso mesmo comprei-o para que pudesse ver se continha o que a muito tempo Busco.
Lamento é um livro diferente, mas apesar de tudo, verdadeiro, e desafiante. Não vejo nele amargura , ou falta de bom senso , ainda que podemos ouvir os gritos e sussurros do autor quando recebe a noticia da morte de seu filho. Talvez esse livro seja a reação de alguém com pura comunhão com Deus, pois vemos alem das questões existenciais, um pai que encontra descanso em Deus.
O livro tem apenas 110 paginas, e tenho certeza que será leitura para uma tarde de reflexão pura sobre a vida, e nossa vida com Deus.
Vi coragem em Nicholas Wolterstorff , e confesso a todos que me sinto infinitamente fraco diante dessas questões ainda sem respostas..

Por Eduardo Vaz

Da revista ultimato

Lamento... lamentos... quem não os tem? Eles podem ter nome de Eric, de André, de Gustavo... ou podem ser inomináveis. Mas estão sempre presentes em nossas frágeis histórias de vida. É preciso coragem para identificá-los, pranteá-los de diferentes formas, reparti-los com aqueles de alma sensível e submetê-los a Deus para continuar a caminhada.

Lamento é, em certo sentido, uma narrativa de acontecimentos: desde o terrível telefonema numa ensolarada tarde de domingo, falando da morte do filho, até a visita ao seu túmulo um ano depois. Mas é, ao mesmo tempo, bem mais que uma narrativa.
Cada evento é uma oportunidade para lembrar, meditar, se angustiar como Jó, na luta para aceitar e entender. Não há uma divisão em capítulos ou tópicos, mas um encadeamento de experiências e emoções, narradas com sutileza em textos curtos, que podem ser lidos em seqüência ou isoladamente.

Seu referencial não poderia ser outro senão a mais genuína espiritualidade cristã. Os textos bíblicos aparecem de forma inovadora. Cada página se transforma num salmo em que cabem expressões de tremenda humanidade, ao lado de manifestações da mais profunda fé.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Impellitteri - Wicked Maiden

















Como um casamento, eu to mais que convencido que musicalmente Chris Impellitteri e Rob Rock nasceram um para o outro. Se por um lado Rob Rock vinha lançando álbuns fantásticos na carreira solo, Chris empurrava sua banda clássica para o mais fundo posso musical, apostando em uma mistura nada legal de hard rock com pegadas New metal a lá Korn. Mas para mim, um fã de carteirinha do Impellitteri band, ver a dupla fantástica novamente junta é uma maravilha, e só com essa volta percebemos que Rob Rock mesmo tendo sucesso na carreira solo parece se dar bem mesmo é com o seu colega das antigas. Confesso que ao receber as musicas do novo cd fiquei com medo de ouvir péssimas musicas, mas para minha total surpresa “Wicked Maiden”é um álbum que pode ser considerado outra obra prima da banda. Ate parecia que a dupla de aço não tinha ficado separada tanto tempo.
Em si, “Wicked Maiden” prima por um Hard Heavy pesado e com guitarras alucinadas, sempre acompanhado de um time fortíssimo e da voz afinadíssima do Mr.Rob Rock.

Por Eduardo Vaz

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Filósofo Antony Flew Comenta Sobre o Livro "Deus, um Delírio" de Richard Dawkins


No dia 01 de Novembro de 2007, o novo livro de Antony Flew Deus Existe foi publicado pela editora HarperOne (lançado no Brasil pela Ediouro em 2008). Professor Flew já foi chamado de “o filósofo ateu mais influente do mundo”, bem como “um dos mais renomados ateístas do século XX”. Em seu livro, Antony Flew relata como ele passou a acreditar em um Deus Criador a partir da evidência científica e do argumento filosófico.

Como era de se esperar, seu livro causou um grande rebuliço – como pode ser observado nas resenhas dos leitores no site Amazon. Alguns destes comentários (e outros presentes em outras fontes) sugerem que Antony Flew foi usado pelo co-autor do livro, Roy Varghese, e que Flew não sabia de fato o conteúdo que estava no livro. Esta é uma acusação muito séria para a qual o Professor Flew respondeu e reiterou em uma carta recente (4 de Junho de 2008) a uma amigo da UCCF que nos mostrou-a. Professor Flew escreve:


Eu já refuto estas criticas com a seguinte afirmação: “Meu nome está no livro e ele representa exatamente minhas opiniões. Eu não colocaria meu nome em um livro cujo conteúdo eu não concordasse 100%. Eu precisei de alguém para escrevê-lo, pois eu estou com 84 anos e esta foi a tarefa de Roy Varghese. A idéia de que alguém me manipulou porque eu estou velho está completamente errada. Eu posso estar velho, mas é difícil me manipular. Este é meu livro e ele representa meu pensamento”.

Recentemente Professor Flew escreveu suas opiniões sobre o livro de Richard Dawkins Deus, um Delírio. Seu artigo, reproduzido abaixo, mostra as razões-chave do Professor Flew para sua crença na Inteligência Divina. Ele também deixou claro em Deus Existe que é possível a um ser onipotente escolher se revelar ao ser humano, ou agir no mundo de outras maneiras. O artigo do Professor Flew é mostrado aqui como um testemunho do desenvolvimento do raciocínio de alguém que está preparado para considerar a evidência e seguir suas implicações – aonde quer que elas o conduzam.

Sobre Deus, um Delírio, Professor Antony Flew escreve:

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Deus, um Delírio, do escritor ateu Richard Dawkins, é notável em primeiro lugar por ter alcançado alguns recordes, vendendo mais de um milhão de cópias. Mas o que é muito mais notável que este alcance financeiro do livro é que seu conteúdo – ou melhor, a falta de conteúdo – mostra que o próprio Dawkins se tornou aquilo que ele e seus amigos secularistas consideram tipicamente ser uma impossibilidade: um fundamentalista secular. (Minha cópia do Dicionário de Oxford define “fundamentalista” como “um obstinado ou um partidário intolerante de um ponto de vista”).

A falha de Dawkins como acadêmico (o que ele ainda era durante o período em que ele escreveu este livro, embora ele já tivesse anunciado sua intenção de se aposentar) foi sua escandalosa e aparentemente deliberada recusa em apresentar a doutrina que ele parece acreditar que refutou em sua forma mais forte. Assim, nós encontramos no índice remissivo do livro cinco referências a Einstein: a máscara de Einstein; Einstein sobre a moralidade; sobre um Deus pessoal; sobre o propósito da vida (a situação humana e sobre como o homem se importa com os demais, principalmente para com aqueles dos quais sua própria felicidade depende); e finalmente sobre as opiniões religiosas de Einstein. Mas (eu acho difícil escrever com moderação sobre esta obscura recusa por parte de Dawkins) ele não faz nenhuma menção ao relato mais importante de Einstein: a saber, que a complexidade integrada do mundo da física o levou a acreditar que é necessário haver uma Inteligência Divina por traz de tudo isto. (Eu particularmente penso que é óbvio que se este argumento é aplicável ao mundo da física, então ele deve ser imensamente mais poderoso se aplicado ao imensuravelmente mais complicado mundo da biologia).

Na página 118, Deus, um delírio é notável. Assim diz: “Talvez estejamos observando algo semelhante hoje em dia nas trombeteadas tergiversações do filósofo Antony Flew, que anunciou, já idoso, ter sido convertido à crença em algum tipo de divindade (desencadeando um frenesi de repetições em toda a internet)”.

O importante nesta passagem não é o que Dawkins está dizendo sobre Flew, mas o que ela está dizendo sobre o próprio Dawkins. Porque se ele tivesse tido qualquer interesse na verdade sobre o assunto que ele estava tratando [a conversão de Flew, N.T.], certamente ele teria me escrito uma carta com suas questões. (Quando eu recebi uma torrente de questionamentos depois de minha conversão ao Deísmo ser relatada na publicação trimestral do Royal Institute of Philosophy eu respondi – acredito – todas as cartas).

Tudo isto nos mostra que Dawkins não está interessado na verdade, antes, está primeiramente preocupado em desacreditar um oponente ideológico por quaisquer meios disponíveis. Isto por si só constituiria razão suficiente para eu suspeitar que todo o empreendimento de Deus, um delírio não é, como pelo menos pretende ser, uma tentativa de explorar e propagar o conhecimento sobre a existência ou a não-existência de Deus, antes, é uma tentativa – de extremo sucesso – de propagar as próprias convicções do autor nesta área.

Um ponto menos importante que precisa ser citado nesta resenha é que embora o índice remissivo de Deus, um delírio aponte seis referências ao Deísmo, a obra não provê nenhuma definição deste termo. Isto permite que Dawkins, em suas referências ao Deísmo, sugira que os deístas são uma miscelânea de crentes nisto ou naquilo. A verdade, que Dawkins deveria ter aprendido antes que este livro fosse enviado para as gráficas, é que os deístas acreditam na existência de Deus, mas não o Deus de qualquer revelação. Na verdade, a primeira aparição pública notória da noção de Deísmo foi na revolução americana. O jovem rapaz que rascunhou a Declaração da Independência e que depois se tornou o presidente Jefferson era um deísta, assim como era um grande número dos pais fundadores desta importantíssima instituição, os Estados Unidos da América.

Nesta desnaturada nota de rodapé daquilo que eu estou inclinado a descrever como um livro desnaturado – Deus, um delírio –, Dawkins me censura por aquilo que ele chama de “decisão ignominiosa” de aceitar, em 2006, o “Prêmio Phillip E. Johnson para a Liberdade e a Verdade”. O prêmio é concedido pelo Instituto BIOLA, The Bible Institute of Los Angeles. Dawkins não é sincero em dizer que sua objeção à minha decisão repousa unicamente no fato de BIOLA ser uma instituição especificamente cristã. Ele obviamente assume (mas se abstém de dizê-lo abertamente) que isto [o fato da instituição Biola ser confessadamente cristã, N.T.] é incompatível com a produção de trabalhos acadêmicos de primeira classe em qualquer departamento – não uma tese que seria aceitável em minha própria universidade, ou Oxford ou Havard.

Durante o meu tempo em Oxford, durante os dias que sucederam à segunda guerra, Gilbert Ryle (então Professor Waynflete de Filosofia Metafísica na Universidade de Oxford) publicou um livro muito influente chamado The Concept of Mind [O Conceito da Mente]. Este livro insinuou, apenas insinuou, que mentes não são o tipo de entidades sobre as quais se pode coerentemente dizer que vão sobreviver à morte.

Ryle se sentiu responsável pela perseguição ao ensinamento filosófico e à publicação de descobertas de pesquisa filosófica na universidade e ele sabia, naquele tempo, que haveria um alvoroço se ele publicasse suas próprias conclusões de que a idéia de uma segunda vida, após a morte, era autocontraditória e incoerente. Ele ficou contente por eu fazer isto algum tempo depois e em outro lugar. Eu disse a ele que se eu fosse alguma vez convidado a escrever para a Gilfford Lecture Series, meu assunto seria “A Lógica da Mortalidade”. Quando fui convidado eu escrevi e tudo foi publicado pela Blackwell (Oxford) em 1987. Ainda está sendo impressa pela Prometheus Books (Amherst, NY).

Finalmente, sobre a sugestão de que eu estou sendo usado pela Universidade BIOLA. Se a maneira pela qual eu fui convidado pelos estudantes e pelos membros da faculdade que eu conheci durante o curto tempo que eu permaneci na BIOLA equivale a ser “usado”, então eu apenas posso expressar minha mágoa por não poder racionalmente esperar que aos 85 anos eu possa fazer outra visita a esta instituição.

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Antony Flew foi um dos filósofos ateus mais influentes do século XX. Em 2004, ele anunciou que passara a acreditar em Deus. Segundo suas palavras, ele se tornou deísta, porém, também nas palavras de Flew, "o cristianismo é a religião que mais claramente merece ser honrada e respeitada, quer seja verdade ou não sua afirmação de que é uma revelação divina. Não há nada como a combinação da figura carismática de Jesus com o intelectual de primeira classe que foi São Paulo. Praticamente todo o argumento sobre o conteúdo da religião foi produzido por São Paulo, que tinha um raciocínio filosófico brilhante e era capaz de falar e escrever em todas as línguas relevantes".

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Para o texto original em inglês, clique aqui.

Tradução e Adaptação por: Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

domingo, 3 de janeiro de 2010

É possível fazer alguém amá-lo, mesmo sendo o Todo-Poderoso?



Tradução: Marcela Totolo













Pergunta: Será que é possível fazer alguém amá-lo, mesmo sendo o Todo-Poderoso?

Realmente são precisos dois para dançar o tango (ou para ter uma relação de amor)?

Andrew

Dr. William Lane Craig responde:

Sua pergunta aguçou meu interesse, Andrew, pois neste ultimo ano Jen e eu estivemos freqüentando aulas de dança de salão e, entre os diferentes estilos, aprendemos tango! Inicialmente, nos matriculamos porque nosso filho John estava se casando no verão. Particularmente, me apaixonei pela dança de salão, pois é divertidíssimo. Embora eu seja completamente descoordenado – e eu falo sério; algumas danças, como rumba, por exemplo, exigem que o dançarino coordene movimentos de mãos, braços, peito, quadris, pernas e pés – eu aprecio desafios e estou realmente determinado a aprender a dançar todos estes diferentes estilos.

Dominar estes estilos de dança requer prática, assim eu passo algum tempo sozinho, praticando os passos com uma parceira imaginária. Eu descobri que eu podia aprender, e a dizer cada passo do tango mesmo sem uma parceira presente, apenas fazendo de conta que ela estava comigo fazendo seus próprios movimentos comigo. Isto me mostrou que necessariamente, eu não precisava de uma parceira para dançar tango, mesmo que seja muito mais interessante tendo uma parceira.

Mas descobri que esta estratégia tem uma desvantagem enorme. Embora seja verdade que você pode aprender os passos de tango sozinho, não acaba aí. O homem é quem guia a parceira durante a dança, durante cada um dos intrincados passos. Isto requer que sutilmente as mãos e os braços pressionem a parceira, orientando-a durante os passos. E isto é algo que você não aprende com uma parceira imaginária. Assim, quando danço com Jen, sei que minha maior fraqueza é que eu não a guio corretamente, e ela não sabe com segurança qual é o próximo passo. Isso pode resultar em pés doloridos!

E foi então que eu percebi que são necessárias duas pessoas para dançar o tango, especialmente se quiser dançar bem.

Da mesma forma, para que se tenha um relacionamento amoroso genuíno as duas partes precisam cooperar. É impossível obrigar alguém a fazer algo por livre e espontânea vontade. Se você impõe, a outra pessoa não o faz por livre e espontânea vontade, pois a escolha não foi dela, mas do outro. Acrescentamos que o verdadeiro amor deve ser dado livremente. (Lembre-se da historia de Pinocchio: Geppetto poderia ter criado sua marionete, movido sua boa e dito “papai, eu te amo”, mas Geppetto queria um filho de verdade, não uma simples marionete, mesmo que isto significasse a possibilidade de uma rebelião posteriormente). Assim, um relacionamento amoroso verdadeiro pressupõe liberdade de ambos em dar e receber amor.

Mesmo o Todo Poderoso não pode fazer o que é logicamente impossível. Deus poderia produzir algum tipo de reação química em nossos cérebros para que tivéssemos reações e comportamentos que poderiam ser descritos como amor com relação a Ele, mas isto seria um falso amor, seria como tratar com uma marionete. Para ter um relacionamento amoroso genuíno conosco, Deus necessita criar a possibilidade de uma rebelião. É claro que isto não significa que Aquele que ama é impotente e incapaz de conquistar o amor do outro. Quem ama de verdade não fica passivo, mas busca maneiras de conquistar a afeição do ser amado. Pode tentar aprender sua “linguagem de amor”, suas preferências, as coisas que não gosta e agir a partir destas informações. De fato, ele passaria pela fase de “se eu fizer X, ela reagirá de forma Y. Ele tentará pensar em todas as estratégias e circunstancias em que o ser amado livremente responderia com amor.

Nós podemos fazer apenas julgamentos falíveis e prováveis com respeito à verdade destas condicionais subjuntivas. Algumas vezes percebemos que tivemos erros de calculo de proporções desastrosas, quando o outro reage de maneira tão diferente daquela esperada. Mas no caso de Deus – se Deus, como creio, possui o conhecimento médio (middle knowledge) – Ele sabe com certeza em quais circunstâncias uma pessoa o amaria ou não livremente em resposta às suas iniciativas. Deus não pode fazer com que você o ame, mas Ele pode fazer algo ainda maior, que é proporcionar circunstancias em que você por sua livre vontade dê a Ele o seu amor.

Agora, a questão óbvia é “por que Deus não ordena ao mundo que todos devem livremente amá-lO?”. Este é essencialmente o problema do mal (moral) e sua versão soteriológica que já contemplei em outros artigos veja: (“O problema do mal” e “Como Cristo pode ser o Único Caminho para Deus?”). Em resumo, a resposta é que Deus não poderia criar um mundo de pessoas livres (sem gerar desvantagens excessivas) em que todos escolhessem livremente amá-lO. Não é suficiente que existam circunstâncias em que cada pessoa venha a amar livremente a Deus; estas circunstâncias devem ser compossíveis, e isso pode não ser factível. Deus ainda estende graça suficiente sobre todas as pessoas que ele criou, de modo que ela possa vir a amá-lO e ter um relacionamento de amor com Ele, mas ainda assim, algumas pessoas são inexoráveis e O rejeitam.

Portanto, no caso de Deus, também são necessários dois para dançar o tango e, se uma parte se recusa a dançar, nada acontece.

O artigo original em inglês está em www.reasonablefaith.org

sábado, 2 de janeiro de 2010

William Lane Craig responde: Deus é Verdadeiramente Infinito?





Por Eliel Vieira : www.elielvieira.org
Questão 1: Prezado Sr. Craig,

Como sempre estou debatendo e defendendo o Kalam[1], eu sempre refuto a possibilidade de um passado eterno para o universo simplesmente explanando a diferença entre infinitos reais e potenciais. Agora, é muito simples provar a não existência de infinitos reais, mas com isto surge a questão “como Deus pode ser infinito se infinitos reais não existem?”. Eu tento dar o meu melhor para responder a esta questão, mas a resposta nunca sai tão boa quanto a maneira como gostaria que ela saísse. Eu geralmente digo que infinitos reais não existem no mundo físico; Deus é verdadeiramente infinito, mas Ele transcende o universo físico e não está limitado a espaço ou circunstâncias. Qualquer resposta será grandemente valiosa.

Russ.

Questão 2: Se infinitos reais não existem, como você argumenta, você discorda de que Deus conhece um número infinito de coisas?

Obviamente existe um imensurável, mas finito, número de coisas no universo a se conhecer, mas e sobre Seus próprios pensamentos? Não existiria um número infinito de pensamentos na mente da Trindade?

Alan


Dr. Craig responde:

Eu responderia sua questão de forma diferente, Russ. Alguma coisa ser ou não física parece, em minha opinião, ser irrelevante ao fato de que sua quantidade está entre os valores que podem ser numerados ou contados. Assim é, por exemplo, perfeitamente inteligível perguntar se existem um verdadeiro número infinito de anjos ou um número infinito de almas. As coisas não precisam ser físicas para poderem ser contadas. (Matematicamente, existem também alguns infinitos não numeráveis, mas estes casos não se enquadram ao caso aqui).

Antes, a chave para sua questão é entender que a noção matemática de um infinito real é uma concepção quantitativa. Trata-se de uma coleção de elementos precisos e discretos que são membros de uma coleção. Mas quando teólogos falam sobre Deus ser infinito, eles não estão tratando a palavra no sentido matemático, se referindo a um conjunto de infinitos números de elementos. A infinidade de Deus é, antes, qualitativa, e não quantitativa. Isto significa que Deus é metafisicamente necessário, moralmente perfeito, onipotente, onisciente, eterno, etc.

Na verdade “infinito” é apenas um “termo guarda-chuva” usado para cobrir todos os atributos superlativos de Deus. Se você retirar a abstração de todos os atributos, então não haverá nenhum atributo chamado “infinidade”. Nenhum dos atributos de Deus precisa envolver um número infinito de coisas. Para dar um exemplo, Alan, a onisciência não precisa implicar o conhecimento de um número infinito de, digamos, proposições, muito menos ter um número infinito de pensamentos; também não precisamos nós pensar que a onipotência implica a habilidade de realizar de um número infinito de ações[2]. Quando nós definimos onisciência como um conhecimento de todas as proposições verdadeiras, nós estamos expressando a amplitude do conhecimento de Deus, não o seu modo. O modo do conhecimento de Deus tem sido concebido tradicionalmente como não-proposicional na natureza. Deus tem uma intuição singular e não-dividida da realidade, o que nós – conhecedores finitos – fragmentamos em bits individuais de informação, chamadas “proposições”. Assim, o número de proposições é potencialmente infinito, na melhor das hipóteses. Similarmente, onipotência não é definida em termos da quantidade de poder possuído por Deus ou pelo número de ações que Deus pode realizar, mas em termos de Sua capacidade de realizar estados de afazeres. Como tal, a onipotência não envolve nenhum comprometimento com um infinito de real de coisas. Portanto, não há nenhuma razão para pensar que Deus é suscetível ao tipo de análise quantitativa imaginada pelos opositores.

Assim, negar que Deus é infinito no sentido quantitativo do termo de maneira algum implica que Deus é finito. Esta inferência non sequitur[3], uma vez que o senso quantitativo de infinidade pode simplesmente ser não aplicável a Deus.

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Notas

[1] – “Argumento Cosmológico Kalam”. Argumento que busca inferir a existência de Deus como causa explicativa para o início do universo. [Nota do tradutor]
[2] – William Alston, “Does God Have Beliefs?” Religious Studies 22 (1986): 287-306; Thomas P. Flint and Alfred J. Freddoso, “Maximal Power,” in The Existence and Nature of God, ed. Alfred J. Freddoso (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1983), pp. 81-113.
[3] - Expressão latina que significa "não segue". É utilizada para denominar conclusões que não seguem às premissas apresentadas. [Nota do tradutor]