segunda-feira, 29 de março de 2010

Deus em questao, C.S.Lewis e Freud - Armand M.Nicholi.Jr

A muito tempo não via um livro tão apaixonante e vibrante. O autor, Psiquiatra em Harvard , e com vasto conhecimento dos dois personagens, dá simplesmente um show na leitura da vida de ambos. Muito bom ler um livro de alguém que de fato conhece de seu campo intelectual.
Para um leigo em Freud o livro será meio cansativo , o mesmo pode ser dito de Lewis, Mas para os conhecedores do assunto esse livro será um achado, pois pelo menos comigo, foi resposta para várias dúvidas sobre os personagens.
O teor histórico e jornalístico deixa a obra parecer um jogo entre duas pessoas, pois é inegável as comparações e avaliações a partir dessas análises. Mas mesmo assim, o resultado é avassalador e de muita luz na história de ambos.
O resultado pretendido é alcançado , uma vez que o autor compara todos os assuntos abordados por Freud no decorrer de sua vida, analisando os mesmos assuntos na visão de C.S.Leiws. Com isso ficamos encantados de como a conversão de Lewis de fato pôs fim ao estilo ateísta de vida, fazendo-o mais feliz e capaz de responder a dilemas que antes o perturbava.
Um livro indicado a pessoas que querem conhecer a fundo um pouco da vida dessas duas personagens do mundo intelectual.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Deveríamos Apoiar o Casamento Homossexual? - Wolfhart Pannenberg

Tradução: Vitor Grando
DespertaiBereanos.blogspot.com


Pode o amor ser pecaminoso? Toda a tradição doutrinária cristã ensina que há uma coisa chamada amor invertido, pervertido. Os seres humanos são criados para o amor, como criaturas do Deus que é amor. Ainda assim essa ordenação divina é corrompida sempre que as pessoas se afastam de Deus ou amam outras coisas mais do que Deus.

Jesus disse, “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim...” (Mt 10:37). Amor a Deus deve ter precedência sobre o amor aos nossos parentes, apesar do amor aos parentes ser uma ordem do quarto mandamento.

A vontade de Deus sendo a estrela guia de nossa identidade e auto-determinação. O que isso significa para o comportamento sexual pode ser visto no ensinamento de Jesus sobre o divórcio. Ao responder à pergunta dos Fariseus quanto a possibilidade do divórcio, Jesus cita a criação dos seres humanos. Aqui ele vê Deus expressando seu propósito para as criaturas: a criação confirma que Deus criou os seres humanos como macho e fêmea. Assim, deixa o homem pai e mãe para se unir a sua mulher, e os dois se tornam uma só carne.

Jesus conclui a partir disso que a união indissolúvel entre marido e esposa é a vontade de Deus para os seres humanos. A união indissolúvel do casamento, portanto, é o alvo da nossa criação como seres sexuais (Mc 10:2-9). Visto que quanto a este princípio a Bíblia não é temporal, as palavras de Jesus são o critério e o fundamento para todo pronunciamento cristão sobre a sexualidade, não somente para o casamento, mas toda nossa identidade como seres sexuais. De acordo com o ensinamento de Jesus, a sexualidade humana como macho e fêmea tem como alvo a união indissolúvel do casamento. Esse padrão instrui o ensinamento cristão sobre todo comportamento sexual.

A perspectiva de Jesus corresponde à tradição judaica, apesar de sua ênfase na indissolubilidade do casamento ir além da prescrição do divórcio dentro da lei Judaica (Dt 24.1). Era uma convicção judaica que os homens e as mulheres em suas identidades sexuais são planejados para a comunidade do casamento. Isso também vale para as determinações do Velho Testamento que fogem a esta norma, incluindo a fornicação, adultério e as relações homossexuais.

As determinações bíblicas quanto à prática homossexual são muito claras e não dão margem à ambiguidade em sua rejeição a tal prática, e todas suas afirmações sobre esse assunto concordam mutuamente sem exceções. O Código de Santidade, em Levítico, sem controvérsias afirma, “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é.” (Lv 18:22). Levítico 20 inclui o comportamento homossexual entre os crimes que merecem pena capital (Lv 20:13, é significativo que o mesmo se aplica ao adultério no versículo 10). Sobre este assunto, o Judaísmo sempre se viu como distinto das outras nações.

Essa mesma distinção continua a determinar as afirmações do Novo Testamento sobre a homossexualidade, em contraste à cultura Helenista que não via problema algum com as relações homossexuais. Em Romanos, Paulo inclui o comportamento homossexual entre as consequências de se afastar de Deus (1:27). Em 1 Coríntios, a prática homossexual está, junto da fornicação, adultério, idolatria, avareza, bebedeira, furto e roubo, entre os comportamentos que impedem a entrada no reino de Deus (6:9-10); Paulo afirma que através do batismo os cristão se tornaram livres do relacionamento com tais práticas (6:11)

O Novo Testamento não contém nenhuma passagem sequer que possa indicar uma afirmação mais positiva da prática homossexual que possa contrabalançar essas afirmações Paulinas. Assim, o testemunho bíblico inclui a prática do homossexualismo, sem exceções, entre os tipos de comportamentos que expressam notavelmente a humanidade afastada de Deus. Esse resultado exegético coloca amarras estreitas na visão sobre a homossexualidade que uma Igreja sob a autoridade das Escrituras pode ter. As afirmações bíblicas sobre este assunto simplesmente representam o resultado negativo à visão positiva da Bíblia sobre o propósito da criação do homem e da mulher como seres sexuais.

Estes textos que são negativos em relação ao comportamento homossexual não lidam simplesmente com opiniões marginais que pudessem ser negligenciadas sem prejuízo à mensagem cristã como um todo. Ainda mais, as afirmações bíblicas sobre a homossexualidade não podem ser relativizadas como expressões de uma cultura que hoje está ultrapassada. O testemunho bíblico era deliberadamente oposto à cultura que o circundava em nome da fé no Deus de Israel, que, na criação, designou o homem e a mulher para uma identidade particular.

Aqueles que advogam uma mudança na visão da Igreja sobre a homossexualidade geralmente apontam que as afirmações bíblicas não estavam cientes de modernas e importantes evidências antropológicas. Essa nova evidência, dizem, sugere que a homossexualidade deve ser vista como um constituinte da identidade psicossomática das pessoas homossexuais anterior a qualquer expressão sexual. (Para o bem da clareza é melhor falar aqui de uma inclinação homofílica como distante da prática homossexual.) Tal fenômeno ocorre não somente em pessoas ativas na homossexualidade. Mas a inclinação não precisa ditar a prática. É característica dos seres humanos que nossos impulsos sexuais não estão confinados a um âmbito do comportamento separado; eles permeiam nosso comportamento em toda área da vida. Isso, é claro, inclui as relações com pessoas do mesmo sexo. Entretanto, justamente porque as motivações eróticas estão envolvidas em todos os aspectos do comportamento humano, nós temos a tarefa de integrá-los ao todo da nossa vida e conduta.

A simples existência de inclinações homofílicas não leva automaticamente à prática homossexual. Ao invés, essas inclinações podem ser integradas numa vida na qual elas são subordinadas ao relacionamento com o sexo oposto onde, de fato, o assunto da atividade sexual não deveria ser o centro determinante da vocação e vida humanas. Como o sociólogo Helmut Schelsky corretamente colocou, uma das realizações do casamento como uma instituição é o aproveitamento da sexualidade humana a serviço de objetivos e tarefas posteriores.

A realidade das inclinações homofílicas, portanto, não precisam ser negadas e não devem ser condenadas. A questão, entretanto, é como lidar com tais inclinações dentro da tarefa humana de dirigir nosso comportamento de maneira responsável. Esse é o problema real; e é aqui que devemos lidar com a conclusão que a atividade homossexual é um desvio da norma para o comportamento sexual que foi dada aos homens e mulheres como criaturas de Deus. Para a Igreja esse é o caso não só da atividade homossexual, mas de qualquer atividade sexual que não tem como objetivo o casamento entre homem e mulher, em particular o adultério.

A Igreja tem que viver com o fato de que, nessa área da vida como em outras, desvios da norma não são excepcionais mas, antes, comuns e difundidos. A Igreja deve lidar com todos os envolvidos com tolerância e compreensão, mas também levá-los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se desvia da norma.

Aqui estão os limites de uma Igreja cristã que está sujeita à autoridade das Escrituras. Aqueles que argumentam que a Igreja deve mudar esta norma devem estar cientes que estão promovendo divisões. Se uma igreja fosse se deixar levar ao ponto onde deixasse de tratar a atividade homossexual como um desvio da norma bíblica e reconhecesse as uniões homossexuais como uma parceria pessoal de amor equivalente ao casamento, tal igreja não mais estaria sobre bases bíblicas, mas contra o testemunho inequívoco das Escrituras. Uma igreja que desse esse passo deixaria de ser a Igreja una, santa, católica e apostólica.