segunda-feira, 25 de abril de 2011

C.S. Lewis - O peso da Gloria


Vejo em C.S.lewis um daqueles poucos cristaos que conseguiram unir um intelectualismo engajado, com uma vida piedosa e pratica, alem de um discurso simples para os incredulos.Se por um lado ele é o escritor do ultra-dificil: Milagres, livro rico em conteudo metafisico e pesado de se entender, por outro lado ele tambem é o escritor de Cartas do Diabo a seu aprendiz, livro que qualquer leigo entenderá, mesmo sendo um ignorante em assuntos espirituais. O pesao da Gloria é uma coleçao de pregacoes e palestras ministradas em tempos de guerra, e seria bem rico se lessemos com isso em mente, para podermos entender melhor o contexto dessa mensagem.
A reedição de Peso de Glória, de C. S. Lewis, em português, deve alegrar a todos os dedicados leitores desse renomado professor das Universidades de Cambridge e Oxford. A originalidade de seu pensamento, o incomparável progresso de sua lógica e a criatividade de suas idéias são como um banquete posto para famintos. É difícil menosprezar esse gigante das letras, mesmo quando não temos a capacidade de captar todas as nuanças da ampla compreensão que ele tinha do cristianismo.
As palestras deste livro destinaram-se a princípio a alunos universitários e auditórios acadêmicos. Nem por isso a maneira de Lewis expressar-se era seca e enfadonha. Pelo contrário, é possível sentir a paixão de um coração voltado para Deus e preocupado com a transmissão das boas novas de salvação. Ele talentosamente comunica-se com homens que em parte rejeitaram o evangelho por causa da simplicidade de evangelistas faltos de profundidade.
Quem ler as obras de Lewis logo perguntará por que um professor de literatura parece ter mais capacidade de transmitir conceitos teológicos do que os próprios teólogos. A resposta deve ser que Lewis conheceu bem o coração humano. Lendo e lecionando Literatura, teve contato com pensadores e escritores que contribuíram para a profundeza de seu ser. Afinal de contas, Lewis tornou-se ateu ainda adolescente, mas se converteu após a leitura de escritores como George MacDonald, quando desafiado por perguntas sérias nas aulas de filosofia da Universidade de Oxford.CS. Lewis experimentou os dois lados da moeda: foi anticristão antes de tornar-se cristão.
Seremos mais do que bem recompensados se os leitores de Peso de Glória, em português, tiverem a mesma satisfação que tivemos ao ler estas palestras de Lewis.

É uma leitura incrivelmente boa ....vale apena investir

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Para que serve Deus - Philip Yancey



Para que serve Deus - Em busca da verdadeira fé - Philip Yancey

Eu confesso que ainda não consegui entender Philip Yancey. Já o detonei, já elogiei, já briguei com ele mentalmente, já o louvei, mas continuo sem o entender. Depois de ler praticamente todas suas obras que saíram no Brasil, posso afirmar que ele é sim um autor relevante e sincero, além de polêmico e precursor de uma casta de pseudocrístãos revoltados, não por culpa dele, mas por meio de seus escritos. ELE É POLÊMICO.

Uma coisa que me intriga na fala de cristãos libertários, é o uso do episódio de Jesus contra os mercadores na porta do templo. Eles usam esse texto para justificarem suas iras e um andar na carne, o que me deixa muito triste, pois não era isso que Jesus queria que tirássemos desses textos. Igualmente ao mau uso desse episódio, temos aqueles que usam muito mal a análise dos textos de Philip Yancey, e esquecem que, por detrás de seus livros e comentários, tem um cristão sério e compromissado com sua fé e seu Senhor, além de membro ativo de uma comunidade cristã nos EUA.

Nessa sua última obra, o autor mostra mais uma vez sua marca registrada. Aquilo que faz dele um dos mais notáveis autores norte-americanos, ou seja, sua forma de escrever como se estivesse contando historias a um amigo num café da tarde. Tudo recheado de muitas parábolas pessoais e boas ilustrações de vida. Yancey é mestre em escrever. Isso faz de seus livros bons companheiros em dias livres.

“Para que serve Deus” é mais um livro polêmico, que relata algumas viagens do autor para lugares inóspitos á fé, como: Índia, China, África do Sul, Paquistão e ainda outros nem tanto, mas ainda assim menos receptivos do que os EUA.

Pensei que, de todas historias contadas, a da China e Paquistão me fariam chorar, mas muito pelo contrário, foi a própria experiência legalista/religiosa do autor que mais me marcou. Isso porque, em qualquer comunidade religiosa, somos tentados a um legalismo idiota e sem medida, pois a vida de legalismo é uma vida que falseia a realidade da mente para com Deus, nos fazendo sentir bem por fazer coisas, ou nos proibir coisas, e talvez seja por isso que Deus, segundo o autor, bate tão pesado nessa modalidade errante entre os cristãos.

Posso dizer que Yancey amadureceu muito, apesar de continuar sendo polemico e único. Porem, essa obra não me fez querer brigar com ele, ao contrário, de outras mais antigas.

Quero deixar claro, e preciso fazer isso me expondo aqui, que ele passa por cima de assuntos polêmicos. Como se cristianismo fosse apenas levantar a mão e se denominar crente, pois em muitos dos casos, ele não aborda o que pensa sobre: recasamento, homossexualismo e outras práticas abertamente anti-bíblicas. Em alguns pontos, ele deixa pistas, mas no geral, não se posiciona. Por exemplo, ele cita Paulo, mas o mesmo Paulo foi quem de forma muito clara condenou legalismos, mas também condenou pessoas a saírem da igreja por vida de pecado. Veja! Digo VIDA e não deslizes.

Philip Yancey, se bem entendido, pode ser de fato uma leitura forte e intrigante, assim como desafiadora. Porem, ele lida com pessoas cuja disposição no coração é de malhar a fé evangélica apenas por malhar, gerando o que tenho visto por aí entre seus leitores. Gente que não tem compromisso com uma localidade de fé. Gente que não tem compromisso com seu testemunho para a glória de Deus. Gente que não se submete a nenhuma autoridade apenas porque aprendeu a ver os erros e não a lutar contra eles.

Aqui no Brasil vemos isso num grupo pseudocrístão que, usando desse discurso, acabam formando uma mentalidade de libertários que não produzem para o reino. Alguns inclusive voltaram a hábitos impróprios como fumo de maconha e mal uso de cigarros e bebidas.

Uma coisa ficou clara para mim, YANCEY é um cristão que ama Jesus, dá sua vida pela causa do evangelho e não tem comprometimento com um mal uso de seus livros. Ainda penso que o autor não entra muito naquele preço exigido por Jesus para que seus seguidores fossem discípulos, mas vejo que tem na própria vida, e isso falo como leitor assíduo, um bom testemunho cristão.

Por Eduardo Vaz
Editado por : Renato Camargo

A morte da razão "Uma resposta ao neo-ateismo"Ravi Zacharias




Saiu no Brasil com um bom atraso, o livro: A morte da razão, do ótimo apologista Ravi Zacharias.
Como de se esperar, ou autor destaca a confiança na Bíblia aliada à fé no poder e na bondade de Deus. O autor refuta com determinação argumentos de que Deus nada mais é do que produto da imaginação e que os cristãos normalmente praticam intolerância e ódio no mundo todo.
É na verdade um livro resposta ao ateu Sam Harris e seu fraquinho “Carta a uma nação Crista”, que é nada mais que o besteirol Neo-ateísta de sempre, so que com uma pitada de mal humor e muito ódio.
A obra trata de temas como "A verdadeira natureza do mal", "A absoluta falência do novo ateísmo", "A coexistência da religião e da ciência", "A fundamentação da moralidade". Ravi Zacharias é presidente da Ravi Zacharias International Ministries. Além disso, possui o programa semanal de rádio, "Let my people think", que é transmitido por mais de 1,5 mil estações de rádio em todo o mundo.
Para quem já esta familiarizado com a temática apologista creio que não teremos nenhuma novidade, mas para os fans do autor como eu, é sempre bom ler algo escrito por gente que tem esse dom magnífico.

Nota: 8

Por Eduardo Vaz

terça-feira, 5 de abril de 2011

Dezenove semanas de amor - Por André Venâncio


Amados leitores, lendo o blog da Norma Braga, dei de frente com uma historia que me serviu como liçao e afirmou mais uma vez o valor da vida...Colocarei ela na integra e cada um de voces analise e reflita:

Escrito por seu marido: André Venâncio

Dezenove semanas de amor


Os mandamentos de Deus são melhor lidos por olhos úmidos de lágrimas." (Spurgeon)

Soubemos da gravidez de minha esposa no começo de outubro, dias depois que um estranho mal-estar, ocorrido durante o culto dominical matutino, nos levou a suspeitar dessa possibilidade. Foram momentos de intensa alegria. Pouco tempo depois, no entanto, a ocorrência de alguns sangramentos ameaçou a nova vida humana que se instalava entre nós. A médica recomendou o repouso absoluto da Norma, o que significava sair da cama só para ir ao banheiro. Além da dedicação necessária ao novo emprego, precisei encarregar-me das compras, dos gatos, das tarefas da cozinha (que foram a pior parte), de levar à cama tudo de que ela precisasse, desde água até cotonetes - de todos os detalhes, enfim. Eu deixava o café da manhã semipronto para ela antes de sair para o trabalho, vinha correndo na hora do almoço com comida comprada em algum lugar para comer com ela e voltar correndo ao trabalho, e sobrou-me um tempo praticamente nulo para qualquer outra coisa. A pesada carga de tarefas que se abateu sobre mim só não foi pior que a total ausência de tarefas de minha esposa, que enfrentou o desafio oposto: sem poder sequer se sentar, restaram-lhe o tédio da quase total imobilidade e, ao menos em parte do tempo, a solidão. Além disso, tivemos de suspender o sexo e abrir mão de algumas noites de sono, no todo ou em parte. Muitas pessoas oraram por nós três em muitos lugares. Tudo isso deu resultado: os sangramentos pararam e a placenta voltou ao normal. A ultrassonografia seguinte nos permitiu respirar aliviados.

Em dezembro, na décima quarta semana de gestação, os exames revelaram uma hidropsia fetal, um acúmulo de fluidos no corpo do bebê que podia impedir o desenvolvimento adequado dos órgãos, levando à morte. Desta vez, porém, exceção feita às orações, não havia nada que pudesse ser feito. Sem perder a esperança, mas também sem qualquer garantia quanto ao futuro, passamos o Natal e o Ano Novo na expectativa do que os novos exames revelariam na primeira semana deste mês. E eles trouxeram más notícias: a hidropsia progrediu, tomando todo o corpo do bebê, incluindo a região do coração e dos pulmões. Vimos na tela do ultrassom, cheios de tristeza, o corpinho deformado pelo inchaço generalizado. No dia 13 de janeiro, um novo exame revelou que o coração já batia com fraqueza e lentidão, prenunciando a morte iminente. E dois dias depois, no dia em que a gravidez completaria dezenove semanas, foi enfim constatada a morte do nosso bebê. Trocamos bem poucas palavras no trajeto para casa e, tendo chegado, fizemos a única coisa que havia a fazer: abraçamo-nos e choramos longa e dolorosamente.

Naquele mesmo dia, lembrei-me do único poema que já li sobre um bebê morto antes do nascimento, escrito pelo inglês G. K. Chesterton (1874-1936). Sempre o considerei um belo poema; nele o bebê expõe a situação de sua própria perspectiva, imaginando, das trevas do ventre materno, como seria sua vida neste mundo, se tivesse chegado a nascer. Transcrevo-o abaixo. Fiz uma tradução, não muito boa, mas suficiente para os leitores que porventura não saibam ler em inglês. Aos que sabem, recomendo a leitura do original, que se encontra logo em seguida.

Pelo bebê que não nasceu

Se as árvores fossem altas e a grama baixa,
como em algum conto maluco,
se aqui e ali houvesse um mar azul
que se estendesse para além do horizonte,

se um fogo constante pendesse no ar
para me aquecer o dia todo,
se cabelos verdes crescessem nas colinas,
eu sei o que eu faria.

Na escuridão eu vivo, sonhando que existem
grandes olhos, amáveis ou frios,
e ruas tortuosas, e portas silenciosas,
e homens vivendo por trás delas.

Que venham as tempestades: viver uma hora
tendo saído à luta e às lágrimas
é melhor que todas as eras em que tenho
governado os impérios da noite.

Penso que se me deixassem
entrar e ficar no mundo,
eu seria bom durante o dia todo
que passasse nessa terra encantada.

Eles não ouviriam de mim uma palavra sequer
de egoísmo ou de desdém,
se eu apenas tivesse encontrado a porta,
se eu apenas tivesse nascido.


By the Babe Unborn

If trees were tall and grasses short,
As in some crazy tale,
If here and there a sea were blue
Beyond the breaking pale,

If a fixed fire hung in the air
To warm me one day through,
If deep green hair grew on great hills,
I know what I should do.

In dark I lie; dreaming that there
Are great eyes cold or kind,
And twisted streets and silent doors,
And living men behind.

Let storm clouds come: better an hour,
And leave to weep and fight,
Than all the ages I have ruled
The empires of the night.

I think that if they gave me leave
Within the world to stand,
I would be good through all the day
I spent in fairyland.

They should not hear a word from me
Of selfishness or scorn,
If only I could find the door,
If only I were born.

Amo esse poema porque ele capta de maneira mui sensível, além de literariamente magistral, a razão pela qual a vida humana deve ser preservada desde o ventre - e, por conseguinte, denuncia com toda a força a hediondez do crime que é o aborto. O poema evoca oportunamente o velho tema da pureza infantil. Não se pode prever que tipo de personalidade humana emergirá daquele misterioso organismo. É deveras pertinente a consideração feita pelo bebê do poema sobre sua própria bondade: se ninguém pode acusá-lo de crime algum, não é justo condená-lo. Ninguém tem o direito de sentenciar um feto à morte, nem de julgar em nome dele se esta lhe é preferível à vida. Acima de tudo isso, paira o fato óbvio (ou que deveria sê-lo) de que uma vida humana não pertence a nenhum outro ser humano.

Naturalmente, nada do que acabo de dizer descreve bem a situação de nosso filho. A principal diferença reside no fato de que ninguém lhe fez mal algum, nem pretendeu fazê-lo. Ao contrário, nosso bebê foi muito amado, e fizemos tudo o que pudemos - e que, na verdade, não foi tanto assim - para conservá-lo conosco. Foi o próprio Deus quem o levou, e ninguém mais. E isso faz toda a diferença, pois Deus, na qualidade de autor da vida, é o único que tem direitos irrestritos sobre ela. Oito meses atrás, ao redigir a página de agradecimentos de minha dissertação de mestrado sobre o diagnóstico de doenças em laranjeiras, fiz uma menção algo bem-humorada ao "Deus Trino, Autor de toda vida, humana ou cítrica". Eu nem sonhava em quão cedo as pesadas implicações desse fato se manifestariam em minha própria família. O Senhor exerceu seu direito exatamente conforme a descrição de Moisés em seu famoso salmo sobre a transitoriedade da vida humana: "Tu reduzes o homem ao pó e dizes: tornai, filhos dos homens". O versículo evoca com fidelidade a linguagem do Gênesis, na ocasião em que Deus amaldiçoou Adão: "No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás". Moisés se referia ao poder que Deus possui e exerce de fazer tornar ao pó a vida humana que Ele mesmo criara - dezenove semanas antes, no caso em questão. E aqui nosso dever é o de responder como Jó, que não perdeu um bebê no ventre, e sim dez filhos já crescidos, além de todos os seus muitos bens: "o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor".

Da mesma forma, diante da santidade de Deus não cabem considerações sobre a pureza das crianças, ou de quem quer que seja. A revelação divina não endossa os desvarios de alguns pensadores sobre uma suposta neutralidade moral inata do homem. "Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe": eis o testemunho bíblico acerca do estado moral do bebê, do feto, do embrião, do zigoto. O poema de Chesterton fornece, por contraste, evidência adicional desse fato. Ele apresenta com grande beleza o sentimento de intensa gratidão que deveria inundar a vida de todo ser humano que tem o privilégio de vir a este mundo. Apesar de todos os terríveis efeitos do pecado, este universo é de fato tão belo que as promessas de bondade e de evitar toda palavra "de egoísmo ou de desdém" deveriam ser levadas muito a sério por todos os homens. Entretanto, não há uma criança - e muito menos um adulto - que não tenha agido precisamente da maneira oposta. As bem-intencionadas promessas do bebê do poema não enganam o observador arguto de nossa natureza. Nosso filhinho era um miserável pecador que, se não cometeu pecado algum, foi apenas por falta de oportunidade. Se Deus o tivesse conservado com vida, o combate constante à sua depravação, em atos e em orações, teria sido, por longo tempo, uma das prioridades fundamentais de nossa vida.

Não deve ser difícil notar que esta breve exposição teológica não tem nenhum componente abstrato e distante da realidade, especialmente para nós, os pais do bebezinho morto. E, longe de agravar nosso sofrimento, a convicção acerca desses dois pontos fundamentais da fé cristã - a soberania divina e a depravação humana - nos abre as portas para a mais sólida alegria possível numa situação como esta. Nosso bebê é um filho da aliança; é, portanto, um santo, não por alguma pureza que possuísse em si, mas por uma causa eficiente muito mais sólida e perene: a pureza de Cristo - o Cristo cuja gloriosa face minha criança veio a contemplar antes de mim. De modo que não posso deixar de me sentir alegre ao repetir as milenares palavras de Davi: "Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim".

Esse episódio tem me levado a pensar com frequência naquele audacioso repúdio do apóstolo Paulo a toda proporção entre as obras dos santos e a recompensa que recebemos de nosso Senhor: "nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação". Isso é verdadeiro de modo mui evidente na curta vida de meu filho, cujo único sofrimento foi uma hidropsia que não durou mais que algumas semanas. Os poucos gramas de fluido acumulado em seu corpinho lhe são agora, no máximo, uma lembrança muito leve. Quando penso no contraste entre a nulidade de suas realizações e a glória de seu destino final, agiganta-se aos meus olhos a manifestação da graça de Deus em sua pequenina vida, e por um momento quase cedo à tentação de invejá-lo. Mas não há o que invejar, já que minha própria condição é idêntica à dele. Meus méritos não são maiores, e tampouco é menor a eficácia da graça de Deus em mim. Se não sou capaz de ver isso com igual clareza em meu próprio caso, é apenas porque minha visão ainda se encontra turvada pelo pecado. A vinda e a partida de meu filho me levaram a uma compreensão mais profunda da misericórdia divina. Nos momentos de maior lucidez, ao menos, vejo que meu bebê e eu estamos exatamente na mesma situação. Nossa recém-formada família já se encontra dividida pelo abismo da morte, mas está unida para sempre sob o cetro de um mesmo Rei, sob a sombra do mesmo amor derramado na cruz.

Nada disso anula nosso sofrimento. Há tempo para tudo, e agora é tempo de chorar. E temos chorado. Minha esposa e eu lutamos pela vida de nosso filho, conversamos com ele, oramos por ele, choramos por ele e sonhamos com ele. É claro que sentimos saudades dele. E é claro que foi para mim uma experiência dolorosa ver seu corpinho sem vida e deformado pela hidropsia. Já vi muitos defuntos, mas nunca vira a morte de tão perto. Jamais ela atingiu alguém que estivesse tão junto ao meu coração e ao meu corpo. Em decorrência disso, a morte me é hoje uma entidade menos abstrata. Agora tenho uma compreensão mais exata do quanto ela é terrível e do quanto são tolos aqueles que procuram jamais pensar nela. Vislumbrei o justo desespero que eu sentiria diante da morte se esse último inimigo não tivesse sido derrotado por Cristo na cruz. Mas é exatamente porque não posso desconsiderar esse evento que a tristeza não pode ir além de certo ponto. Nesta hora de lágrimas, a vitória que Cristo conquistou para minha família não é mero consolo, e sim causa de uma intensa e positiva alegria que coexiste com a dor em meu coração.

Sofro porque meu filho partiu tão cedo, pela intimidade que não chegamos a ter, pelas muitas alegrias (e algumas dores de cabeça) que não terei mais, por tudo o que eu teria aprendido com ele, por todos os momentos com que sonhei e que jamais acontecerão. É como se nossa vida tivesse empobrecido de repente. É justo chorar por tudo isso. Mas não há nenhuma necessidade de chorar por meu bebê, como se ele fosse uma vítima inocente de um destino cruel, nem de queixar-me das injustiças deste mundo, no qual tantos perversos incorrigidos passam vidas longas e saudáveis. A verdade é o oposto exato disso tudo: meu filho se foi deste mundo mau sem que ninguém lhe tivesse feito mal algum. Deus foi maravilhosamente bom para ele. Sua morte foi preciosa aos olhos de meu Senhor, que o alcançou com sua graça salvadora. Todo pai deseja que seu filho seja bem-sucedido. Pois o meu foi, naquilo que pode haver de mais importante. E isso muito me alegra nesta hora de lágrimas.

Postado por Norma