quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bipolaridade Espiritual


Por Igor Miguel,

Amo analisar como cristãos compreendem o mundo a seu redor. Claramente se pode diagnosticar a visão de mundo de um cristão ou de qualquer pessoa por máximas que saem de seus lábios. Há alguns dias ouvi de uma pessoa evangélica: "A oração é para o mundo espiritual e o dinheiro é para o mundo material". Minha consciência se afligiu imediatamente, senti uma dor no estômago e não consegui parar de pensar nesta afirmação. Estava diante de um homem que sofria de bipolaridade espiritual.


Qual é o problema desta frase? Fiquei pensando no tipo de cristianismo que este sujeito anda recebendo. Fiquei pensando nos pastores que o ensinam e o doutrinam. Fiquei pensando nas músicas que ele ouve, ou nos livros que lê, se lê. Ou ainda o pior, como ele lê a Bíblia? Enfim, em que Cristo este cristão crê.

Não questiono sua salvação. Mas, fico pensando quão perversa é a forma como alguns ditos seguidores de Jesus vivem e pensam.

Todo problema reside na visão de vida. Há pessoas que entregaram a vida nas mãos do dinheiro, empurraram a vida do Governo de Deus para uma outra coisa. Restringiram o governo de Deus a uma realidade virtual, criaram uma esfera metafísica, translúcida e imaginária, onde Deus atua, e excluíram Deus da própria santidade da vida.

Como se não houvesse espiritualidade na própria vida, a vida como um todo; como se comer, vestir, trabalhar, comercializar, amar, estudar, fossem dimensões autônomas, seres animados, demiurgos, energias cósmicas ou espíritos elementares. Deram tanta autonomia às coisas criadas que a oração não alcança o dinheiro, a deusa fortuna, torna-se senhora, ídolo. Deus não tem competência para lidar com a vida. Não tem competência para lidar com realidade da dimensão humana, ao contrário, está restrito à liturgia eclesiástica, aos coros, ao universo gospel, aos púlpitos. Por isso, para eles, fora da Igreja quem governa é o cão, é Mamom, são os encostos, a corrupção política e a imoralidade.

Ora, este não é o Cristo que creio, não é o Senhor a quem foi dado todo poder nos céus e na terra. Se é Senhor, governa, tem a chave da morte e do inferno, pois é Senhor da Vida. Senhor de toda vida. Não há nada que não esteja sob sua jurisdição, sob égide de seu poder. Tudo se dobra diante dEle, potestades, principados, tudo se curva.

O problema é que a vida foi achatada, segregada, colocada em um gueto, como se espiritualidade fosse uma coisa manca, sem criatividade, sem vitalidade. Um fóssil enterrado à sete palmos de dogmas, cânticos e orações cheirando a mofo. Ora bolas! Que fé é esta? Quem pregou este evangelho? Com certeza não é esta a boa-nova que saiu dos lábios do Messias judeu, não foram estas as palavras que saíram de Sião e espalharam-se por toda terra.

Jesus criou uma escola da vida, do carisma, da criatividade, de homens que coloriram o mundo com a vitalidade, que proclamavam liberdade na terra, como no Ano do Jubileu, onde prisões eram abertas e cartas de alforria eram distribuídas.

Até quando veremos cristãos restringindo todo potencial criativo de Deus ao gueto de uma espiritualidade quase esotérica, mística e hermética. Até quando se pode tolerar um mundo animado por Gaia, regido por avatares, energias cósmicas?

Ora, o mesmo Deus que criou, criou com palavras, com decretos, para por meio de sua ordem sustentasse toda existência em torno do que Ele é. Toda existência deve reverenciá-lo e reconhecê-lo como Senhor de toda Vida.

Fez a lua para marcar o tempo; o sol conhece a hora do seu ocaso. Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os animais da selva. Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento; em vindo o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis.Sai o homem para o seu trabalho e para o seu encargo até à tarde. Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. (Salmo 104:19-24).

Fonte: http://pensarigor.blogspot.com

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Criaçao e evolução estão em briga?


Por Eduardo Vaz


Entendo que para muitos irmãos o livro de Genesis possa parecer um tratado científico. Aliás, desde que o mundo teológico e filosófico foi assolado pelo Iluminismo e pelo Liberalismo, todos os dois chamados de A ERA DA RAZÃO, um frenezi surgiu na comunidade religiosa, que era, até então, unânime, forte e soberana. A razão à qual o iluminismo apregoava, era aquela que substituiria toda ingenuidade dos mitos e das crendices místicas, além de colocar o pensamento racional no seu devido lugar, afinal de contas, diante das descobertas científicas da modernidade, não necessitaríamos mais dessas ferramentas sobrenaturais para explicar os fenômenos naturais. Acreditava-se que os ideais iluministas de progresso e de crenças na capacidade humana iriam elevar a vida e a experiência humana ao ápice da evolução humana, material e tecnológica e que a religião seria logo descartada nesse processo assim que fosse sendo implementado. O projeto iluminista cria que em questão de pouco tempo a religião e, nesse caso especifico, o cristianismo, estaria fadada ao fracasso em pouco tempo. No campo da teologia, principalmente nos palcos Europeus do século XVII, XVIII e XIX acontecia um caloroso recebimento do liberalismo que dentre outras coisas tinha na sua base a negação de tudo que não fizesse parte do escopo iluminista deveria ser eliminado ou, num sentido mais pratico, deveria ser entendido de forma diferente do que a mentalidade primitiva dos escritores bíblicos. Com isso a “paulada” veio sobre doutrinas básicas como: Ressurreição de Jesus dos mortos, nascimento virginal de Jesus, o pecado original e outras questões básicas da fé. Vale ressaltar que é dentro desse momento que tem seu auge a teoria da evolução das espécies, do zoólogo Charles Darwin e que, de forma ímpar, propõem uma solução independente do posicionamento da Igreja, e que daria condição de responder de maneira crítica a toda gama de espécies que surgiram no planeta. Tentem imaginar como essa teoria foi recebida na época pelos cristãos de todo mundo. Vocês talvez não tenham condição de perceber, mas foi como um meteoro chocando contra a Terra. Logo logo, um grupo de teólogos precisavam dar respostas para esse tema e com isso surge o criacionismo moderno que nada mais é do que uma tentativa de não deixar que o evolucionismo minasse a fé da igreja em um Deus Criador e soberano. Com isso eles usaram o livro de Gênesis como ponta pé inicial para sua defesa básica contra um forte inimigo cultural. O criacionismo nunca foi um movimento que surgiu com o alvo de se fazer boa ciência, mas sim como resposta ao evolucionismo de Darwin. Alguns teóricos do criacionismo usam os cientistas cristãos do passado como base para argumentar que eram criacionistas, mas longe disso, todos eles eram impulsionados por aquilo que chamo de “A ajuda cristã para a ciência”, pois talvez, se não fosse o cristianismo com sua idéia de que a criação não é Deus, e por isso era passível de ser investigada, o mundo estaria até um bom tempo sobre a cosmovisão pagã da época, onde se divinizava os elementos da natureza, impossibilitando a ciência como temos hoje. Os mais importantes cientistas antigos eram em sua grossa maioria cristãos sérios, que criam em um DEUS criador, e que se lançavam às descobertas mais pormenorizadas desses detalhes. O alvo sempre foi descobrir como as coisas de Deus surgiram e não usar Deus como uma lacuna para conhecimento. Até então, tudo que se fazia era colocar Deus na falta de conhecimento adequado para aquela explicação, mas quando isso era preenchido com algum achado, Deus deixava de ser necessário. Desde cedo eles tinham uma fé inabalável de que, fosse como fosse, tudo tinha vindo por meio de inteligência divina, porém os fenômenos para esses surgimentos precisavam de explicações, pois se a criação tinha um ser racional por traz de tudo, então era possível ser desbravada com o uso da razão doada aos humanos por Deus.

Querem chamar os primeiros cristãos cientistas de criacionistas, mas o cunho dessa palavra a meu ver não cabe aqui. Se como criacionistas queremos dizer que eles criam nessa teoria proposta pelos norte americanos fundamentalistas eu diria que não, mas se a idéia é apenas dizer que eles criam num Deus criador, acho que cabe. Porém o termo é bem característico do movimento que crê numa terra de pouco mais de 6 mil anos e que teve todo seu desenrolar criacional em 6 dias apenas de 24hrs, e aqui eu diria que não caberia o uso do termo. Escritos mais antigos de um dos Pais da Igreja, Agostinho, já afirmava séculos antes do período cientifico moderno, e séculos antes dessa turma do criacionismo, que Genesis não era um tratado cientifico e que nunca poderíamos nos prender a uma única forma de ver a coisa. Ele “morria de medo” de que o povo de Deus se fechasse e ignorasse as descobertas mais atuais sobre a verdade da natureza. Dizia: “... a tese de que o sistema heliocêntrico não contradiz a Bíblia. Tudo não passou de exagero desfundamentado. Normalmente, mesmo um não-cristão sabe alguma coisa sobre a terra, os céus e outros elementos deste mundo, sobre o movimento e a órbita das estrelas e mesmo seus tamanhos e posições relativas, sobre eclipses previsíveis do sol e da lua, os ciclos do ano e das estações, os tipos de animais, arbustos, pedras, e assim por diante. Tais conhecimentos ele sustenta, tendo-os como certos por conta da razão e da experiência. Agora, é algo vergonhoso e perigoso para um infiel ouvir um cristão que tira conclusões precipitadas a respeito do sentido das Sagradas Escrituras e diz bobagens sobre esses tópicos; e devemos empregar todos os meios para evitar esse tipo de situação constrangedora, na qual as pessoas mostram seu vasto desconhecimento sobre os cristãos e faz pouco deles. É muita vergonha, não porque um indivíduo ignorante é ridicularizado, mas porque as pessoas que não conhecem a religião acham que nossos sagrados escritores sustentam tais opiniões e, infelizmente para aqueles por cuja salvação trabalhamos arduamente, os autores de nossas escrituras são criticados e rejeitados como se fossem homens ignorantes. Se encontrarem um cristão cometendo um erro em um campo que eles conheçam bem e o ouvirem defendendo suas opiniões idiotas sobre nossos livros, como acreditarão nesses livros e em assuntos referentes à ressurreição dos mortos, à esperança de vida eterna e ao reino dos céus, quando pensam que suas páginas se acham cheias de falsidades sobre fatos que eles aprenderam pela experiência à luz da razão.”
Você pode estar se perguntando: Mas irmão, onde você quer chegar com esse texto? Minha intenção é simplesmente Dizer que já fui criacionista fundamentalista. Daqueles que lia Genesis achando que os autores do mesmo eram cientistas modernos, e que estavam ali, precisamente na parte introdutória nos dando um relato certinho de como Deus fez o mundo e tudo que há. Meu medo é de que alguns, quando tiverem um pouco mais de abertura mediante conhecimento, fiquem presos e até tenham conflitos com a fé. Eu mesmo, assim como meu amigo pessoal e também discípulo Fernando Braga (Doutorando em geografia) tivemos vários conflitos por ter que afirmar esse criacionismo para nós mesmos sem poder de forma inteligente e coerente dialogar com o que de melhor temos em ciência. Quero com isso dizer que, como estudante de geografia, eu penso que um cristão deve entender que a ciência sempre teve bons cristãos em sua equipe de pesquisadores, e que nenhum deles teve que cometer suicídio intelectual para ser cientista. Existe uma vasta gama de teólogos conservadores e cientistas que defendem que você não precisa deixar de crer em Deus para crer em evolução, e tem desenvolvido boas teses para dizer que, tenha o homem sido criado como foi, Deus é parte do processo maior. Precisamos ter abertura sensata para um dialogo com a cultura e com a ciência, se não, nossos esforços virarão contra nós mesmos. Você pode perguntar, mas Eduardo, você é evolucionista? Eu direi NÃO... Posso hoje dialogar com a ciência sem esses preconceitos de outrora, ate porque não precisamos mais do Deus das lacunas. Penso que boa ciência sempre chegara a verdades, e toda verdade é de DEUS, que é a verdade em Si. Creio que o ateu sim precisa que esse paradigma atual da ciência seja verdade, porque se não for eles estão fritos. Já nós, podemos ficar da janela sem preconceitos, esperando as novas descobertas, porque nenhuma delas terá como inferir posicionamento anti-Deus. Na verdade nosso inimigo não é o Evolucionismo, mas sim um troço inferido por filósofos materialistas, chamado naturalismo filosófico. Este se usa da evolução para dizer que ela é cega e que não tem nada alem da matéria. Eis ai o que me oponho ferrenhamente, pois isso é uma filosofia e não ciência. Nosso inimigo então não é o evolucionismo e sim o naturalismo filosófico. Um dos maiores cientistas evolucionistas, nome esse usado por todos os estudantes de biologia evolucionaria Theodosius Dobzhansky, que era um cristão convicto e um ferrenho evolucionista dizia assim: “A criação não é um evento que ocorreu em 4004 a.C.; é um processo que começou por volta de 10 bilhões de anos atrás e ainda continua. (…) Será que a doutrina evolucionária entra em atrito com a fé religiosa? Não. É um erro crasso confundir as Sagradas Escrituras com cadernos elementares de Astronomia, Geologia, Biologia e Antropologia. Somente quando são criados os símbolos para significar o que não pretendem é que podem nascer conflitos imaginários e insolúveis.”
Meu conselho é que não nos apeguemos aos paradigmas como nos apegamos à fé em Deus. Os paradigmas mudam e, se nossa confiança estiver neles, caímos juntos. Por isso me abro ao dialogo mas não me defino nada. Fico em cima do muro porque assim creio ser nossa postura. À medida que a ciência avança podemos ir dialogando com ela numa boa e sem medo. Ela nunca poderá tirar nossa fé em um Deus criador, mesmo afirmando o evolucionista. Mas aí à medida que afirmam o evolucionismo e juntamente o naturalismo filosófico, devemos nos posicionar, porque ai é filosofia e não ciência.
Louvo a Deus por homens dele que em meio a uma época de frieza para a fé, usam seu tempo para não brigar com a ciência, mas fazem dela algo para a gloria de Deus. Leio Genesis sem a pretensão de estar diante de um texto cientifico. Ali, o povo era primitivo, e a ciência ate então era mais de engenharia do que de biologia. Encontro ali a idéia de um Deus que fez tudo, porém, não os detalhes desse mistério. Tenho comigo que verdades eternas não mudam se a evolução for um fato. Fecho esse texto dizendo que não vejo mais uma guerra entre criação e evolução, mas uma guerra entre naturalismo filosófico e fé em Deus. Como dica deixo obras dos famosos cristãos contemporâneos sobre o tema: 1-Fundamentos do dialogo entre ciência e religião – Alister Mcgrath , 2- A Alma da ciência - Nancy R. Pearcey - Charles B. Thaxton, 3- Como ler Genesis – Tremper Longman III, 4- Ciência , Fé e Intolerância- Phillip Johnson