quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Obsolescência Acadêmica do Teísmo? por Eliel Vieira


Alvin Plantinga

Um conhecido ateu certa vez disse que o teísmo já sofreu de sua obsolescência acadêmica e que pensadores como Alvin Plantinga são apenas “minoria barulhenta” (fonte). Já havia quase esquecido desta afirmação quando, hoje, li um ensaio muito interessante escrito pelo filósofo ateu americano Quentin Smith.

No ensaio chamado The Metaphilosphy of Naturalism [A Metafilosofia do Naturalismo], publicado em 2001 pelo jornal humanista Philo, ao comentar sobre o que ele chamou de “dessecularização da academia que tem evoluído nos departamentos de filosofia desde o fim dos anos 60”, Quentin Smith lamenta:

Os naturalistas assistiram passivamente a versões do teísmo, influenciadas pelos escritos de Alvin Plantinga, começarem a nadar nas ondas da comunidade filosófica, ao ponto de, hoje, talvez 1/4 ou 1/3 terço dos professores de filosofia ser teísta, com a maioria sendo cristãos ortodoxos. Embora muitos teístas não trabalhem na área de filosofia da religião, muitos deles trabalham nesta área ao ponto de hoje existirem cerca de cinco jornais filosóficos devotados ao teísmo ou a filosofia da religião, tais como Faith and Philosophy, Religious Studies, International Journal of the Philosophy of Religion, Sophia, Philosophia Christi, etc. Philosophia Christi começou no fim dos anos 90 e já transborda de submissões de filósofos de ponta. Você consegue imaginar se uma porção considerável de artigos de repente começasse a apresentar argumentos de que espaço e tempo constituem o sensorium de Deus (visão de Newton) ou se jornais de biologia ficassem cheios de teorias defendendo o élan vital ou uma inteligência guiadora? É claro, alguns professores nestes outros campos não filosóficos são teístas; por exemplo, um recente estudo indicou que 7% dos cientistas top são teístas. Entretanto, teístas em outros campos tendem a compartimentalizar suas crenças teístas de suas crenças acadêmicas; eles raramente se assumem e nunca argumentam a favor do teísmo em seu trabalho acadêmico. Se eles assim agirem, vão cometer suicídio acadêmico ou, mais exatamente, seus artigos serão rapidamente rejeitados pelos examinadores, que exigirão que eles escrevam artigos seculares para publicação. Se um cientista argumentar a favor do teísmo em jornais acadêmicos profissionais, como Michael Behe fez na biologia, os argumentos não serão publicados em jornais acadêmicos de seu campo (neste caso, biologia), mas em jornais filosóficos (por exemplo, Philosophy of Science e Philo, no caso de Behe). Mas em filosofia, se torna quase que “academicamente respeitável” argumentar a favor do teísmo, tornando a filosofia um campo favorável para receber os mais inteligentes e talentosos teístas que entram na academia atualmente. Uma contagem mostra que no catálogo 2000-2001 da Oxford University Press, existem 96 livros publicados recentemente sobre filosofia da religião (94 teístas e 2 representando “ambos os lados”). Em contraste, existem 28 livros neste catálogo sobre filosofia da linguagem, 23 sobre epistemologia (incluindo epistemologia da religião, como o livro de Plantinga Warranted Christian Belief), 14 sobre metafísica, 61 livros sobre filosofia da mente, e 51 livros sobre filosofia da ciência.

Um pouco mais à frente no mesmo artigo Quentin Smith diz:

Deus não está “morto” na academia; ele voltou à vida no fim dos anos 60 e agora está vivo em sua última fortaleza acadêmica, os departamentos de filosofia.

O artigo é interessante, apesar de ser apaixonado a favor do naturalismo. Várias outras frases poderiam ser citadas aqui. Contudo, para meus objetivos, o que foi citado já é suficiente para questionar: à luz dos fatos apresentados pelo filósofo ateu Quentin Smith, o teísmo já sofreu sua obsolescência? Pessoas como Plantinga são apenas “minoria barulhenta”?

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