Por Eliel Vieira : www.elielvieira.org
Questão 1: Prezado Sr. Craig,
Como sempre estou debatendo e defendendo o Kalam[1], eu sempre refuto a possibilidade de um passado eterno para o universo simplesmente explanando a diferença entre infinitos reais e potenciais. Agora, é muito simples provar a não existência de infinitos reais, mas com isto surge a questão “como Deus pode ser infinito se infinitos reais não existem?”. Eu tento dar o meu melhor para responder a esta questão, mas a resposta nunca sai tão boa quanto a maneira como gostaria que ela saísse. Eu geralmente digo que infinitos reais não existem no mundo físico; Deus é verdadeiramente infinito, mas Ele transcende o universo físico e não está limitado a espaço ou circunstâncias. Qualquer resposta será grandemente valiosa.
Russ.
Questão 2: Se infinitos reais não existem, como você argumenta, você discorda de que Deus conhece um número infinito de coisas?
Obviamente existe um imensurável, mas finito, número de coisas no universo a se conhecer, mas e sobre Seus próprios pensamentos? Não existiria um número infinito de pensamentos na mente da Trindade?
Alan
Dr. Craig responde:
Eu responderia sua questão de forma diferente, Russ. Alguma coisa ser ou não física parece, em minha opinião, ser irrelevante ao fato de que sua quantidade está entre os valores que podem ser numerados ou contados. Assim é, por exemplo, perfeitamente inteligível perguntar se existem um verdadeiro número infinito de anjos ou um número infinito de almas. As coisas não precisam ser físicas para poderem ser contadas. (Matematicamente, existem também alguns infinitos não numeráveis, mas estes casos não se enquadram ao caso aqui).
Antes, a chave para sua questão é entender que a noção matemática de um infinito real é uma concepção quantitativa. Trata-se de uma coleção de elementos precisos e discretos que são membros de uma coleção. Mas quando teólogos falam sobre Deus ser infinito, eles não estão tratando a palavra no sentido matemático, se referindo a um conjunto de infinitos números de elementos. A infinidade de Deus é, antes, qualitativa, e não quantitativa. Isto significa que Deus é metafisicamente necessário, moralmente perfeito, onipotente, onisciente, eterno, etc.
Na verdade “infinito” é apenas um “termo guarda-chuva” usado para cobrir todos os atributos superlativos de Deus. Se você retirar a abstração de todos os atributos, então não haverá nenhum atributo chamado “infinidade”. Nenhum dos atributos de Deus precisa envolver um número infinito de coisas. Para dar um exemplo, Alan, a onisciência não precisa implicar o conhecimento de um número infinito de, digamos, proposições, muito menos ter um número infinito de pensamentos; também não precisamos nós pensar que a onipotência implica a habilidade de realizar de um número infinito de ações[2]. Quando nós definimos onisciência como um conhecimento de todas as proposições verdadeiras, nós estamos expressando a amplitude do conhecimento de Deus, não o seu modo. O modo do conhecimento de Deus tem sido concebido tradicionalmente como não-proposicional na natureza. Deus tem uma intuição singular e não-dividida da realidade, o que nós – conhecedores finitos – fragmentamos em bits individuais de informação, chamadas “proposições”. Assim, o número de proposições é potencialmente infinito, na melhor das hipóteses. Similarmente, onipotência não é definida em termos da quantidade de poder possuído por Deus ou pelo número de ações que Deus pode realizar, mas em termos de Sua capacidade de realizar estados de afazeres. Como tal, a onipotência não envolve nenhum comprometimento com um infinito de real de coisas. Portanto, não há nenhuma razão para pensar que Deus é suscetível ao tipo de análise quantitativa imaginada pelos opositores.
Assim, negar que Deus é infinito no sentido quantitativo do termo de maneira algum implica que Deus é finito. Esta inferência non sequitur[3], uma vez que o senso quantitativo de infinidade pode simplesmente ser não aplicável a Deus.
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Notas
[1] – “Argumento Cosmológico Kalam”. Argumento que busca inferir a existência de Deus como causa explicativa para o início do universo. [Nota do tradutor]
[2] – William Alston, “Does God Have Beliefs?” Religious Studies 22 (1986): 287-306; Thomas P. Flint and Alfred J. Freddoso, “Maximal Power,” in The Existence and Nature of God, ed. Alfred J. Freddoso (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1983), pp. 81-113.
[3] - Expressão latina que significa "não segue". É utilizada para denominar conclusões que não seguem às premissas apresentadas. [Nota do tradutor]
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