No dia 01 de Novembro de 2007, o novo livro de Antony Flew Deus Existe foi publicado pela editora HarperOne (lançado no Brasil pela Ediouro em 2008). Professor Flew já foi chamado de “o filósofo ateu mais influente do mundo”, bem como “um dos mais renomados ateístas do século XX”. Em seu livro, Antony Flew relata como ele passou a acreditar em um Deus Criador a partir da evidência científica e do argumento filosófico.
Como era de se esperar, seu livro causou um grande rebuliço – como pode ser observado nas resenhas dos leitores no site Amazon. Alguns destes comentários (e outros presentes em outras fontes) sugerem que Antony Flew foi usado pelo co-autor do livro, Roy Varghese, e que Flew não sabia de fato o conteúdo que estava no livro. Esta é uma acusação muito séria para a qual o Professor Flew respondeu e reiterou em uma carta recente (4 de Junho de 2008) a uma amigo da UCCF que nos mostrou-a. Professor Flew escreve:
Eu já refuto estas criticas com a seguinte afirmação: “Meu nome está no livro e ele representa exatamente minhas opiniões. Eu não colocaria meu nome em um livro cujo conteúdo eu não concordasse 100%. Eu precisei de alguém para escrevê-lo, pois eu estou com 84 anos e esta foi a tarefa de Roy Varghese. A idéia de que alguém me manipulou porque eu estou velho está completamente errada. Eu posso estar velho, mas é difícil me manipular. Este é meu livro e ele representa meu pensamento”.
Recentemente Professor Flew escreveu suas opiniões sobre o livro de Richard Dawkins Deus, um Delírio. Seu artigo, reproduzido abaixo, mostra as razões-chave do Professor Flew para sua crença na Inteligência Divina. Ele também deixou claro em Deus Existe que é possível a um ser onipotente escolher se revelar ao ser humano, ou agir no mundo de outras maneiras. O artigo do Professor Flew é mostrado aqui como um testemunho do desenvolvimento do raciocínio de alguém que está preparado para considerar a evidência e seguir suas implicações – aonde quer que elas o conduzam.
Sobre Deus, um Delírio, Professor Antony Flew escreve:
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Deus, um Delírio, do escritor ateu Richard Dawkins, é notável em primeiro lugar por ter alcançado alguns recordes, vendendo mais de um milhão de cópias. Mas o que é muito mais notável que este alcance financeiro do livro é que seu conteúdo – ou melhor, a falta de conteúdo – mostra que o próprio Dawkins se tornou aquilo que ele e seus amigos secularistas consideram tipicamente ser uma impossibilidade: um fundamentalista secular. (Minha cópia do Dicionário de Oxford define “fundamentalista” como “um obstinado ou um partidário intolerante de um ponto de vista”).
A falha de Dawkins como acadêmico (o que ele ainda era durante o período em que ele escreveu este livro, embora ele já tivesse anunciado sua intenção de se aposentar) foi sua escandalosa e aparentemente deliberada recusa em apresentar a doutrina que ele parece acreditar que refutou em sua forma mais forte. Assim, nós encontramos no índice remissivo do livro cinco referências a Einstein: a máscara de Einstein; Einstein sobre a moralidade; sobre um Deus pessoal; sobre o propósito da vida (a situação humana e sobre como o homem se importa com os demais, principalmente para com aqueles dos quais sua própria felicidade depende); e finalmente sobre as opiniões religiosas de Einstein. Mas (eu acho difícil escrever com moderação sobre esta obscura recusa por parte de Dawkins) ele não faz nenhuma menção ao relato mais importante de Einstein: a saber, que a complexidade integrada do mundo da física o levou a acreditar que é necessário haver uma Inteligência Divina por traz de tudo isto. (Eu particularmente penso que é óbvio que se este argumento é aplicável ao mundo da física, então ele deve ser imensamente mais poderoso se aplicado ao imensuravelmente mais complicado mundo da biologia).
Na página 118, Deus, um delírio é notável. Assim diz: “Talvez estejamos observando algo semelhante hoje em dia nas trombeteadas tergiversações do filósofo Antony Flew, que anunciou, já idoso, ter sido convertido à crença em algum tipo de divindade (desencadeando um frenesi de repetições em toda a internet)”.
O importante nesta passagem não é o que Dawkins está dizendo sobre Flew, mas o que ela está dizendo sobre o próprio Dawkins. Porque se ele tivesse tido qualquer interesse na verdade sobre o assunto que ele estava tratando [a conversão de Flew, N.T.], certamente ele teria me escrito uma carta com suas questões. (Quando eu recebi uma torrente de questionamentos depois de minha conversão ao Deísmo ser relatada na publicação trimestral do Royal Institute of Philosophy eu respondi – acredito – todas as cartas).
Tudo isto nos mostra que Dawkins não está interessado na verdade, antes, está primeiramente preocupado em desacreditar um oponente ideológico por quaisquer meios disponíveis. Isto por si só constituiria razão suficiente para eu suspeitar que todo o empreendimento de Deus, um delírio não é, como pelo menos pretende ser, uma tentativa de explorar e propagar o conhecimento sobre a existência ou a não-existência de Deus, antes, é uma tentativa – de extremo sucesso – de propagar as próprias convicções do autor nesta área.
Um ponto menos importante que precisa ser citado nesta resenha é que embora o índice remissivo de Deus, um delírio aponte seis referências ao Deísmo, a obra não provê nenhuma definição deste termo. Isto permite que Dawkins, em suas referências ao Deísmo, sugira que os deístas são uma miscelânea de crentes nisto ou naquilo. A verdade, que Dawkins deveria ter aprendido antes que este livro fosse enviado para as gráficas, é que os deístas acreditam na existência de Deus, mas não o Deus de qualquer revelação. Na verdade, a primeira aparição pública notória da noção de Deísmo foi na revolução americana. O jovem rapaz que rascunhou a Declaração da Independência e que depois se tornou o presidente Jefferson era um deísta, assim como era um grande número dos pais fundadores desta importantíssima instituição, os Estados Unidos da América.
Nesta desnaturada nota de rodapé daquilo que eu estou inclinado a descrever como um livro desnaturado – Deus, um delírio –, Dawkins me censura por aquilo que ele chama de “decisão ignominiosa” de aceitar, em 2006, o “Prêmio Phillip E. Johnson para a Liberdade e a Verdade”. O prêmio é concedido pelo Instituto BIOLA, The Bible Institute of Los Angeles. Dawkins não é sincero em dizer que sua objeção à minha decisão repousa unicamente no fato de BIOLA ser uma instituição especificamente cristã. Ele obviamente assume (mas se abstém de dizê-lo abertamente) que isto [o fato da instituição Biola ser confessadamente cristã, N.T.] é incompatível com a produção de trabalhos acadêmicos de primeira classe em qualquer departamento – não uma tese que seria aceitável em minha própria universidade, ou Oxford ou Havard.
Durante o meu tempo em Oxford, durante os dias que sucederam à segunda guerra, Gilbert Ryle (então Professor Waynflete de Filosofia Metafísica na Universidade de Oxford) publicou um livro muito influente chamado The Concept of Mind [O Conceito da Mente]. Este livro insinuou, apenas insinuou, que mentes não são o tipo de entidades sobre as quais se pode coerentemente dizer que vão sobreviver à morte.
Ryle se sentiu responsável pela perseguição ao ensinamento filosófico e à publicação de descobertas de pesquisa filosófica na universidade e ele sabia, naquele tempo, que haveria um alvoroço se ele publicasse suas próprias conclusões de que a idéia de uma segunda vida, após a morte, era autocontraditória e incoerente. Ele ficou contente por eu fazer isto algum tempo depois e em outro lugar. Eu disse a ele que se eu fosse alguma vez convidado a escrever para a Gilfford Lecture Series, meu assunto seria “A Lógica da Mortalidade”. Quando fui convidado eu escrevi e tudo foi publicado pela Blackwell (Oxford) em 1987. Ainda está sendo impressa pela Prometheus Books (Amherst, NY).
Finalmente, sobre a sugestão de que eu estou sendo usado pela Universidade BIOLA. Se a maneira pela qual eu fui convidado pelos estudantes e pelos membros da faculdade que eu conheci durante o curto tempo que eu permaneci na BIOLA equivale a ser “usado”, então eu apenas posso expressar minha mágoa por não poder racionalmente esperar que aos 85 anos eu possa fazer outra visita a esta instituição.
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Antony Flew foi um dos filósofos ateus mais influentes do século XX. Em 2004, ele anunciou que passara a acreditar em Deus. Segundo suas palavras, ele se tornou deísta, porém, também nas palavras de Flew, "o cristianismo é a religião que mais claramente merece ser honrada e respeitada, quer seja verdade ou não sua afirmação de que é uma revelação divina. Não há nada como a combinação da figura carismática de Jesus com o intelectual de primeira classe que foi São Paulo. Praticamente todo o argumento sobre o conteúdo da religião foi produzido por São Paulo, que tinha um raciocínio filosófico brilhante e era capaz de falar e escrever em todas as línguas relevantes".
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Para o texto original em inglês, clique aqui.
Tradução e Adaptação por: Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org
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