Autor: William Lane Craig
Tradução: Eliel Vieira
Caro Doutor Craig,
Eu tenho estudado a defesa da fé cristã durante a maior parte dos últimos seis meses. Eu reconheço que seis meses não é muito tempo, entretanto há uma ideia que eu não tenho conseguido vencer ou apresentar uma refutação quando ela é levantada em uma conversa ou debate. Muitas pessoas, incluindo alguns cristãos, alegam ignorância intelectual sobre conhecer alguma coisa sobre a vida, o universo e a lógica. Eles afirmam que uma vez que cada possibilidade ainda não foi explorada, então nada pode ser dito com certeza. Uma vez que nada pode ser dito com certeza, então todas as premissas que você apresenta podem parecer verdadeiras para nós, mas nós não podemos dizer que elas são absolutamente verdadeiras. Se elas não podem ser provadas como absolutamente verdadeiras, então não há razão alguma para acreditar nelas, e o argumento morre logo ali.
Está ficando cada vez mais frustrante e desanimador começar a falar com alguém baseado na lógica que é aceita e provada, e então ter que parar antes que a discussão sequer comece. Por exemplo, no argumento cosmológico kalam a primeira premissa estabelece que “Tudo o que começou a existir tem uma causa.” Mas muitas pessoas questionam esta premissa baseando-se no fato de que nós humanos não viajamos por todo o universo para podermos concluir esta premissa. Uma vez que nós não exploramos todas as possibilidades no resto do universo, é impossível basear algo em uma ideia que pode ser ou não ser verdadeira em todo o universo.
Eu tenho certeza que você já ouviu isto antes em seus debates, esta ideia da incerteza das coisas. Eu estou inseguro sobre como proceder e falar quando as pessoas pensam desta forma. Qual conselho você me dá para responder a estas objeções?
Christopher
Resposta do Dr. Craig:
As pessoas que você menciona, Christopher, são vitimas de um ceticismo injustificado e, no fim das contas, autodestrutivo.
Observe que eles igualam conhecimento com certeza. Se você não tiver certeza de que uma proposição p é verdadeira, então você não sabe que p. Mas que justificação existe para esta suposição? Eu sei que eu possuo uma cabeça, por exemplo. Mas eu poderia ser um cérebro em uma cuba de produtos químicos sendo estimulado por um cientista maléfico para que eu pense que eu tenho um corpo. Esta simples possibilidade implica que eu não sei que eu tenho uma cabeça? Se sua resposta for “Sim”, peça a eles que apresentem sua justificação para sua ideia de que o conhecimento exige certeza. Para qualquer coisa que eles disserem você pode perguntar a eles, “Você tem certeza?” Se eles disserem “Não”, então eles não sabem que o conhecimento exige certeza. Se eles disserem “Sim”, então não é verdadeiro, afinal de contas, que nós não podemos saber alguma coisa sobre a vida, o universo e a lógica.
O ceticismo, ironicamente, puxa o tapete onde seus próprios pés estão. Por exemplo, seus amigos afirmam saber que “uma vez que todas as possibilidades não foram exploradas, nada pode ser dito com certeza.” Esta mesma declaração é uma afirmação de conhecimento! (Uma afirmação notoriamente falsa, mas deixa para lá!) Como eles sabem disto? Ou, novamente, como eles sabem que “uma vez que nada pode ser dito com certeza, nós não podemos dizer que suas premissas são absolutamente verdadeiras”? Esta é uma afirmação de conhecimento (novamente, uma afirmação falsa). Ou, o que dizer da afirmação “se as premissas não podem ser provadas como absolutamente verdadeiras, então não há razão alguma para acreditar nelas”? Como eles sabem disto? (De novo, isto parece ser notoriamente falso, mas deixe isto para lá.) De onde estes céticos retiraram todo este conhecimento?
E se nós não podemos saber nada sobre lógica, como eles podem ter seguido o raciocínio abaixo?
1. Uma vez que todas as possibilidades não foram exploradas, nada pode ser afirmado com certeza.
2. Uma vez que nada pode ser afirmado com certeza, todas as premissas que você apresenta podem parecer verdadeiras pra nós, mas não são absolutamente verdadeiras.
3. Se elas não podem ser provadas como absolutamente verdadeiras, então não existem razões para acreditarmos nelas.
Estas premissas se parecem com as premissas de uma inferência lógica chamada silogismo hipotético! Mas se esta regra de inferência não é correta, então nenhuma conclusão segue de (1-3) e nós não temos nenhuma razão, portanto, para duvidar do meu argumento original.
O problema fundamental com o ceticismo é que ele pressupõe que, a fim de conhecer p, você precisa saber que você sabe que p. Mas se eu posso saber um pouco de verdade sem saber como é que eu sei disto, então a espinha do ceticismo é cortada. O cético na verdade está fazendo uma afirmação muito radical para a qual ele não pode apresentar nenhuma justificação sem também serrar o galho no qual ele está pendurado.
O ceticismo é, portanto, estranhamente arrogante e autodestrutivo. Ele se baseia na suposição de termos conhecimento de afirmações não muito óbvias. O cético não pode fornecer nenhuma justificação destas afirmações, fazendo com que sua visão se torne, ela própria, incoerente; sem estas afirmações, entretanto, seu ceticismo entra em colapso. Portanto, a falta de certeza certamente não implica que eu não tenho conhecimento.
Fonte - http://elielvieira.org/